Golpe rasteiro – O Congresso argentino deu um duro golpe contra a democracia e a liberdade de expressão. Na quinta-feira (22), o Senado aprovou por 41 votos a favor, 26 contra e uma abstenção a proposta do governo que transforma o papel de imprensa em bem de interesse público. Com a decisão, o governo da presidente Cristina Fernández de Kirchner passará a controlar a produção e distribuição de papel de imprensa.
Com a aprovação da nova lei, o governo argentino pretende aumentar o capital investido na empresa, o que permitirá o aumento da produção e a distribuição de papel de imprensa a todos os veículos do país. A truculência está no fato de que caberá ao governo da viúva de Néstor Kirchner a decisão de quem receberá o produto.
A medida atinge a única fabricante do produto na Argentina, a Papel Prensa, controlada pelos jornais El Clarín e La Nación, mas que conta com participação minoritária do governo federal. Trata-se de mais uma investida de Cristina de Kirchner contra o grupo Clarín, que há muito vive em rota de colisão com a Casa Rosada, sede do Executivo argentino.
Desde que chegou ao poder, sucedendo na presidência o próprio marido, Cristina de Kirchner tem sido influenciado por alguns ditadores de esquerda que pululam na América Latina, a começar pelo tiranete bolivariano Hugo Chávez, que teria colaborado financeiramente com a primeira campanha presidencial da atual mandatária argentina.
O caso da maleta milionária
Em agosto de 2007, Guido Antonini, um venezuelano que vive em Miami e tem ligações com Hugo Chávez, desembarcou em Buenos Aires na companhia de empresários da Venezuela. Na alfândega Antonini não soube explicar os motivos que o levavam a entrar no país com uma maleta recheada com US$ 800 mil. Em situação normal, Guido Antonini teria sido preso no aeroporto de Buenos Aires, mas isso não aconteceu porque assessores do então presidente Néstor Kirchner entraram em ação.
De volta a Miami, Antonino reencontrou o empresário venezuelano Franklin Durán, acusado pelo governo dos Estados Unidos de atuar no país como agente do governo de Hugo Chávez para ocultar a origem e o destino do dinheiro. No início da operação foi Durán quem disse a Antonini o destino dos US$ 800 mil.
O advogado de defesa de Durán, Ed Shohat, disse que Antonini queria obter um acordo com o governo da Venezuela para encobrir os fatos, assim como documentação falsa, e exigia o pagamento de dois milhões de dólares. “Antonini dizia a funcionários do governo da Venezuela: se não me derem dois milhões de dólares conto tudo à imprensa (…) inclusive escreveu uma carta para o presidente Chávez”, disse Shohat ao júri.
Além deFranklin Durán, outros dois venezuelanos – Carlos Kauffman e Moisés Maiónica – e um uruguaio – Rodolfo Wanseelee – foram acusados pela Justiça norte-americana de atuarem em Miami como agentes disfarçados da Venezuela com o propósito de convencer Antonini a ocultar a origem e o destino do dinheiro.