Tiro no escuro – O Programa Nacional de Combate às Drogas, lançado pela presidente Dilma Rousseff, ficou no discurso e continua empacado no Palácio do Planalto. O tema vem sendo tratado apenas pelo Ministério da Saúde, com a ressalva que as incursões do ministro Alexandre Padilha em São Paulo têm também viés político-eleitoral.
Nesta quarta-feira (18), Padilha esteve na capital paulista para anunciar investimento de R$ 6,4 milhões para programas de tratamento de dependentes químicos. Durante visita à região central paulistana, o ministro disse que dezesseis equipes de saúde que atuam em São Paulo serão treinadas e transformadas em “consultórios de rua”, projeto cujo objetivo é oferecer cuidados de saúde aos usuários de drogas no espaço das vias públicas.
Sem dúvida o atendimento aos dependentes químicos é uma ação importante e necessária, mas que perde a eficácia no momento em que o governo federal vira as costas para as fronteiras brasileiras, porta de entrada de drogas e armas. De nada adianta autoridades de países fronteiriços se reunirem para discursos e fotografias, quando se sabe que o tráfico de entorpecentes na América do Sul passa obrigatoriamente pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, grupo narcoguerrilheiro que luta para sobreviver após inúmeras baixas em seus quadros e seguidas derrotas para o poder institucionalizado. Integrante do Foro de São Paulo, movimento que reúne partidos políticos e organizações esquerdistas da América Latina, as Farc contam com o apoio camuflado de muitos governantes do continente, o que explica o não combate ao tráfico de drogas nas fronteiras.
No contraponto, expulsar os usuários de crack da região central da cidade de São Paulo pouco resolve, pois a logística dos traficantes está diretamente relacionada à migração dos usuários. Enquanto os barões das drogas continuarem impunes, inclusive financiando políticos e candidaturas, qualquer ação do Estado será mera pirotecnia oficial.