Convidado trapalhão – Quando o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, disse que o Brasil precisava de um “chute no traseiro” para imprimir ritmo às obras para a Copa do Mundo, autoridades federais se rebelaram e partiram para o revide. Ministro do Esporte, Aldo Rebelo disse que o governo não mais aceitaria Valcke como interlocutor da FIFA para os assuntos do Mundial de futebol. Conversa fiada de quem precisa reagir, mas ao Palácio do Planalto não cabe a prerrogativa de imiscuir nos assuntos da FIFA.
Nesta terça-feira (8), em reunião na sede da FIFA, na Suíça, Aldo Rebelo teve de encarar Jérôme Valcke e o presidente da entidade, Joseph Blatter. Durante o encontro ficou decidido que o governo brasileiro passará a integrar o Comitê Organizador Local (COL), que só será mantido para preservar a imagem de cada um dos seus integrantes, começando pelos ex-jogadores Ronaldo Nazário de Lima e José Roberto Gama de Oliveira, o Bebeto.
A entrada do governo no COL acontece a treze meses da Copa das Confederações e a 25 meses da Copa do Mundo, o que não significa que o cronograma das obras será seguido de acordo com o previsto, pois o Palácio do Planalto anda às voltas com as obras públicas destinadas ao certame futebolístico. É verdade que muitos atrasos são propositais, pois o superfaturamento só ocorre sob a chancela da urgência, mas atrasos existem em todas as cidades-sede. A primeira vez na história do futebol mundial que um governo passa a integrar o Comitê Organizador Local ocorreu na África do Sul, que sediou o evento em 2010.
Para fontes do governo, o anúncio da FIFA é um reconhecimento do fracasso dos cartolas brasileiros na gestão da Copa e da necessidade de que o Palácio do Planalto assuma como protagonista. Esse novo capítulo da Copa do Mundo precisa ser considerado com o devido cuidado, pois recentemente o ministro Aldo Rebelo externou o desejo do governo de interferir na CBF.
Que a entidade maior do futebol nacional passa por problemas e não é das mais confiáveis todos sabem, mas não se pode admitir interferência do poder público em setores privados. Se isso acontecer, o Brasil assistirá pela segunda vez a intromissão do Estado na CBF. A primeira ocorreu meses antes da Copa do Mundo de 1970, quando o técnico João Saldanha, comunista de quadro costado, foi demitido do comando da seleção brasileira por ordem do então presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici.