Contra a parede – Líder do PPS na Câmara e membro titular da CPMI do Cachoeira, o deputado federal Rubens Bueno (PR) cobrou nesta sexta-feira (11) um posicionamento oficial da presidente Dilma Vana Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o aval do governo federal à compra da construtora Delta pela holding J&F, controladora do frigorífico JBS. Na edição desta sexta do jornal “Folha de S. Paulo”, o empresário José Batista Júnior, um dos donos do conglomerado que tem o BNDES como sócio, afirma que o Palácio do Planalto foi consultado sobre a transação e deu aval à decisão de sua família de comprar a Delta Construções. A empreiteira está no centro do escândalo que envolve o contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, popularmente conhecido como Carlinhos Cachoeira, em um esquema de corrupção, pagamento de propina, superfaturamento de contratos, lavagem de dinheiro e outras fraudes em licitações com órgãos públicos.
Além da manifestação pública, o deputado adiantou que cobrará por escrito, via requerimento de informações, posicionamento oficial da Presidência da República e do ministro da Fazenda. “Não bastasse o envolvimento do governo na fusão da Oi/BrT, na capitalização da JBS e na compra do banco Panamericano pela Caixa, agora querem salvar uma construtora que está envolvida até o pescoço com um criminoso (Cachoeira). Lembrando que sempre por trás desses negócios surgem consultores petistas de alto valor de mercado como José Dirceu, Antônio Palocci e, agora, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (presidente do conselho de administração da holding J&F). E sempre tudo é feito com financiamento do BNDES, com dinheiro público”, criticou o deputado.
Em entrevista à Folha, o dono da JBS chega a adiantar que o governo tem todo o interesse no negócio por não querer a paralisação das obras que a Delta toca no PAC. Só em 2011, a empresa recebeu R$ 862,4 milhões do governo federal. “Imagina que o doutor Henrique Meirelles vai fazer um negócio que o governo não quer! 99% da carteira da Delta é com governo federal, estadual, municipal. Como vai fazer um negócio desses?”, afirmou Batista Júnior em reportagem da Folha. O empresário chamou ainda de “conversa de bêbado, de louco” a versão de que a holding teria negociado a compra sem consentimento do governo Dilma Rousseff.
Brasil sem miséria ou no Brasil sem-vergonha?
O dono da JBS garante ainda que o governo não irá considerar a Delta uma empresa inidônea. “Isso é conversa de gente que não sabe nada. Viu alguém falar isso no governo? Você sabe que tem muitas construtoras querendo comprar a Delta”, disse ao jornal o empresário, que é filiado ao PSB, partido da base de Dilma, e tem interesse em disputar o governo de Goiás.
Para o líder do PPS, a entrevista revela mais uma negociata envolvendo o governo do PT, que desde 2003 vem aperfeiçoando sua peculiar tese de “capitalismo sem risco” para os amigos. “Como é que pode um empresário obter a garantia do governo que uma empresa investigada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal, pela Controladoria Geral da União, pelo Tribunal de Contas da União e por uma CPI Mista do Congresso Nacional não terá seus contratos cancelados. Em que país vivemos? No Brasil sem miséria ou no Brasil sem-vergonha? Aliás, miséria é que não passam os grupos empresariais ligados ao governo. Esses estão todos com os bolsos cheios de dinheiro público”, repudiou Rubens Bueno.
Explicações na Câmara
O líder do PPS afirmou também que irá incluir o empresário Batista Júnior no requerimento que apresentou na quinta-feira na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, pedindo uma audiência pública para discutir a venda da Delta para a JBS. No requerimento, que deve ser votado nas próximas semanas, já estão inclusos o presidente do conselho de administração da holding J&F, Henrique Meirelles, do novo presidente da construtora Delta, Carlos Alberto Verdini, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que comanda o banco que detém 31,4% da JBS.