Queimando a língua – Quando fazia oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso, o PT criticou com ruidosa veemência as privatizações da era tucana, como se fosse o maior e último absurdo da humanidade. Não fosse a privatização das empresas de telefonia, o Brasil ainda estaria atrasadíssimo em termos de telecomunicações. Nem mesmo a internet teria avançado, o que não significa que melhoras não sejam necessárias.
Na ocasião em que o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, se mostrou preocupado com a situação dos aeroportos brasileiros, Lula ficou furioso, pois entende que ninguém pode contrariá-lo ou desafiá-lo. À época, o então presidente prometeu R$ 5 bilhões para reformar e ampliar os principais aeroportos do País, mas nada aconteceu.
Com a chegada de Dilma Rousseff ao poder central e a herança maldita espalhada por todos os corredores do Palácio do Planalto, a saída foi privatizar os principais aeroportos. Na primeira leva passaram às mãos da iniciativa privada os aeroportos de Guarulhos, Viracopos (Campinas) e Brasília.
Diante do apagão de infraestrutura que flana sobre o Brasil, Dilma anunciou nesta quinta-feira (20) a privatização de mais dois aeroportos: Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e Confins, em Minas Gerais.
Como os palacianos não são de ferro e há uma fila de companheiros sedentos por um cargo, o governo criou uma estatal de aviação. Ao mesmo tempo, Dilma e o ministro Wagner Bittencourt, da Secretaria de Aviação, anunciaram investimentos de R$ 7,3 bilhões na construção de aeroportos regionais, o que faz parte dos 800 prometidos pela presidente em Paris.
O governo do PT acredita que construindo aeroportos o Brasil deslanchará economicamente, como se não fossem necessários investimentos em outros setores, como educação, saúde, segurança e outros mais. De nada adianta criar obras para que surja um ralo de corrupção, se o governo não reconhece que mudanças definitivas e estruturais são urgentes.
Essa história de construir 800 aeroportos, o que é uma piada de péssimo gosto, e a privatização de mais aeroportos servirá como senha para novos escândalos e para financiar campanhas eleitorais vindouras. Até porque, uma campanha presidencial com chance de sucesso não sai por menos de R$ 600 milhões.