(*) Ucho Haddad –
Não é novidade para os brasileiros que a política é a arte da incoerência. Mesmo assim, o PT consegue se superar e transformar-se em um verdadeiro monumento dedicado à incongruência.
Diante da possibilidade cada vez maior de Lula ser investigado pelo Ministério Público Federal no caso do Mensalão do PT, a partir das recentes denúncias feitas por Marcos Valério, integrantes do partido, sempre genuflexos e obedientes ao comandante-mor, classificaram o fato como absurdo. Não há qualquer dose de absurdo na decisão de se investigar Lula, que deve se dar por feliz que sua vida seja vasculhada apenas por causa do esquema criminoso que lhe permitiu comprar parlamentares no Congresso Nacional.
Longe de ser um semideus ou alguém inimputável, Lula precisa reconhecer que a última década da sua trajetória foi marcada por escândalos de corrupção, com os quais ele compactuou, mesmo alegando reiteradas vezes que de nada sabia. Lula, como é de conhecimento público, não é um ingênuo que por acidente de percurso chegou ao poder central. No máximo pode-se dizer que se trata de um apedeuta, um ignorante, mas em hipótese alguma deve-se considerar como alguém desprovido de inteligência. Lula é um animal político conhecido e reconhecido como tal, que para viver na selva da política apelou a comportamento ético dilacerante.
O que os petistas buscam no momento é evitar a derrocada do partido, que tem o nome envolvido em diversos casos de corrupção e está proporcionando um persistente espetáculo de incompetência na condução do País. Dilma Rousseff, que foi apresentada ao eleitorado verde-louro como a garantia de continuidade, foi obrigada, como ainda é, a conviver com o esquema que substituiu o Mensalão do PT. O loteamento da Esplanada dos Ministérios, onde muitas pastas são comandadas por políticos inexperientes e incapazes que mais parecem extraterrestres no Central Park em noite de Natal.
Osama bin Laden, que durante anos liderou a lista dos terroristas mais procurados do planeta, agiu criminosamente ao planejar e financiar a derrubada das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, matando milhares de pessoas inocentes e destruindo outras tantas famílias. Espalhou o terror ao redor da Terra, mas agiu dentro daquilo que acreditava ser a verdade máxima. Isso, apesar de ser uma barbárie, é coerência criminosa. O que não significa que devesse ser absolvido pela insanidade cometida. De igual modo, nenhum de seus herdeiros ou familiares poderá alegar que seu assassinato, operado por militares norte-americanos, foi um ato de covardia. Afinal, covardia maior foi a que ele próprio patrocinou.
Dono de ego que supera os limites do universo e sempre se comparando a personalidades históricas, Lula deveria manter a coerência espelhando-se no exemplo acima mencionado. Quando Fernando Collor de Mello, “o caçador de marajás”, foi flagrado em um escândalo de corrupção cuja peçonha, se comparada à do Mensalão do PT, pode ser considerado como mero devaneio criminoso de coroinha de igreja, a gritaria petista foi comandada por Lula. Collor perdeu a majestade por causa de um Fiat Elba. Foi ejetado do poder na esteira do movimento dos “caras pintadas”, cujo controle estava nas mãos do PT. Collor foi banido da política e da vida pública durante anos no vácuo da cruzada comandada por Lula.
O Lula e o PT que derrubaram Fernando Collor, hoje aliado do Palácio do Planalto, são os mesmos que se envolveram no escândalo do Mensalão. Assim como a essência, a coerência do ser humano não deveria mudar. Mas Lula, adulado pela “companheirada”, abraçou a incoerência e gostou do jogo da corrupção, cujo dinheiro fácil proporciona benesses que nenhum sindicato de trabalhadores é capaz de custear.
Mesmo que retome o discurso embusteiro de que é um inocente perseguido, vítima das elites, Lula deve ser investigado como um cidadão comum que desrespeitou a lei, no momento em que deveria dar o exemplo. Se as provas obtidas no curso da investigação forem robustas, além das já fornecidas por Marcos Valério, o ex-presidente deve ser julgado com a dureza da lei e, se necessário, condenado às penas previstas na legislação do País.
No Estado Democrático de Direito é inadmissível passar a mão na cabeça de um líder político que se valeu da própria popularidade para protagonizar o maior escândalo de corrupção da história nacional. Se de fato Lula é inocente, a ponto de não saber os crimes cometidos na sala anexa ao seu gabinete, resta concluir que ele jamais deveria ter chegado ao posto máximo da nação, pois não é impulsionado pela ingenuidade e idiotia que alguém consegue governar um país com a extensão e os problemas do Brasil.
Lula é um farsante experimentado, talhado na ditadura com o cinzel de Golbery do Couto e Silva e capaz de encenar com muito mais competência e desenvoltura do que qualquer monstro sagrado do teatro mundial. Deixar de investigá-lo, diante de tantas provas, configurará crime de prevaricação por parte do Ministério Público Federal.
Se os petistas de fato acreditam que investigar Lula é um absurdo, porque o mesmo é supostamente inocente, que o convençam a concordar com a investigação, pois somente a palavra da Justiça será capaz de colocar um ponto final no imbróglio que, com largos e seguidos passos na direção de verdade incontestável, vem encurralando cada vez mais o ex-metalúrgico. Nada tendo a temer ou esconder, Lula deveria abrir à Justiça os últimos dez anos de sua vida, mesmo que sob sigilo, para que ocupasse na história o lugar que busca alcançar por caminhos sinistros.
Negar o crime é um direito de qualquer acusado, assim como direito é, neste caso constitucional, o de não produzir provas contra si. Contudo, se as provas apontarem a culpa de Lula, a condenação deve ser iminente, pois contra fatos não há argumentos. E contra provas muito menos. Os brasileiros de bem não podem compactuar com a impunidade, com um comportamento criminoso de exceção, apenas porque a bola da vez é Lula. E PT saudações, se for o caso, na cadeia!