Sensacionalismo descabido – O dominical Fantástico, enfadonho folhetim eletrônico da Rede Globo, mais uma vez descobriu a pólvora. O programa que foi ao ar no domingo (24) noticiou que policiais que deveriam combater o tráfico de drogas em São Paulo agem, na verdade, como traficantes. É preciso saber da direção de jornalismo da Vênus Platinada onde está o ineditismo da notícia.
Informar que policiais sequestram traficantes é requentar notícia. Há anos, o ucho.info informou que um policial paulista do setor de combate ao tráfico mantinha em cárcere privado, em um motel da Grande São Paulo, um traficante colombiano, de cuja família exigia R$ 400 mil de resgate. Não é preciso nenhuma dose extra de raciocínio para perceber que o estilo de vida de muitos policiais em todo o País não coaduna com os valores dos respectivos contracheques.
No período em que ministrou cursos na extinta penitenciária feminina do Tatuapé, na Zona Leste da capital paulista, o editor do site ouviu o relato de muitas detentas, em sua maioria presas por tráfico internacional de drogas. Nove entre dez das internas disseram que o volume de drogas apreendido era sempre maior do que o registrado no inquérito policial.
O caso mais polêmico dessa prática criminosa por parte dos policiais veio a público com a prisão do traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, conhecido como “Chupeta”, preso na Grande São Paulo em 2007 e que em apenas uma década movimentou no Brasil US$ 10 bilhões. Ninguém movimenta tanto dinheiro proveniente do crime sem ser incomodado pela polícia. Então herdeiro do cartel de Calí, Abadía, que também viveu em três outros estados brasileiros (Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul), só caiu nas mãos da Polícia Federal porque em dado momento deixou de pagar o pedágio cobrado por alguns policiais, se é que assim podem ser chamados.
Não é a primeira vez que policiais que deveriam combater o tráfico de drogas são presos por atuarem como traficantes. Para quem não se recorda ou desconhece, a Operação Pan Am, que levou para a cadeia figuras proeminentes e conhecidas na noite paulistana, além de um então delegado da Polícia Federal. O esquema criminoso enviava mensalmente aos Estados Unidos 100 quilos de cocaína através da companhia aérea que batizou a operação policial e foi uma das vedetes da aviação internacional.