(*) Carlos Brickmann –
Um senhor condenado a mais de 40 anos de prisão por diversos crimes – todos ligados à operação do Mensalão – e que ainda enfrentará outro processo, pelo outro Mensalão, o tucano, resolve enfim ficar bonzinho. Mentiu durante todo o processo e resolve enfim contar o que sabe. Passou a vida levando vantagem e agora, num lampejo de consciência, resolve enfim colaborar com a Justiça.
E tem gente que acredita! O problema é que o principal alvo das denúncias de Marcos Valério é o ex-presidente Lula. Um ex-presidente não tem foro especial: está sujeito a decisões de um juiz singular. Mas um ex-presidente não é uma pessoa comum – tanto que tem direito a escolta oficial e a outras prerrogativas. Como ex-presidente, diretamente eleito e reeleito, merece consideração e respeito.
Isso não significa que um ex-presidente esteja acima das leis; mas significa que não pode ficar à mercê de qualquer denúncia de qualquer bandido condenado. Se Marcos Valério tinha denúncias a fazer, por que não as fez quando as oportunidades lhe foram oferecidas, durante o processo do Mensalão? Por que só se manifestou depois da causa julgada, da sentença pesada, do jogo jogado?
Que haja respeito, pois. A abertura de uma série de investigações sobre Lula cheira a ameaça. Se há motivo para processo, que se faça a denúncia à Justiça. Mas abrir investigações, só com base em Marcos Valério, é fora de propósito.
Ah, sim: este colunista jamais votou em Lula. E petistas radicais, como aliás os membros radicais de todos os demais partidos, costumam detestá-lo.
O tempo passa
O Supremo já perdeu o prazo para divulgar o acórdão do julgamento do Mensalão (que deveria sair até segunda-feira). Mas há rumores de que o acórdão seja divulgado hoje à tarde. Aí é só contar cinco dias úteis, prazo que a defesa dos réus tem para apresentar seus embargos, e esperar que o Supremo decida aceitá-los ou não. Encerrada esta fase, pode-se iniciar o cumprimento das penas.
O tempo voa
O caso do Mensalão começou em 2005 e ainda não foi encerrado. Mas há planos para que a demora de processos na Justiça seja drasticamente reduzida. O presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, e a presidente da República, Dilma Rousseff, prometem que um conjunto de normas, decretos e novas leis fará com que a Justiça seja mais rápida. De acordo com o confiável portal jurídico Espaço Vital (www.espacovital.com.br), a duração máxima das ações cíveis será de dois anos; a das criminais, de um ano. Uma das medidas, segundo o portal, será a redução das férias dos magistrados de 60 para 30 dias por ano.
O dinheiro também voa
Responda depressa, caro leitor: qual a empresa que concorre com o Metrô? E, caso o cidadão decida que não quer mais usar o sistema de águas e esgotos da Sabesp, qual a concorrente que deve procurar?
Pois é: em São Paulo, empresas que não disputam mercado, que não enfrentam concorrente algum, chegaram a gastar quase R$ 200 milhões por ano em propaganda. A Dersa fez propaganda do Rodoanel, um grande anel viário; a Sabesp, de águas e esgotos, sobre a limpeza do rio Tietê, que aliás continua imundo; o Metrô e a Cia. Paulista de Trens Metropolitanos, CPTM, sobre os maravilhosos trens novos e a extensão de suas linhas; a CDHU, de casas populares, sobre seus novos projetos. Em dez anos de Governo, Alckmin e Serra autorizaram gastos de R$ 2,4 bilhões em anúncios.
Para que? Como nos versos do espanhol Cervantes, para nada.
Vereadores trabalhando
Esta coluna sempre reclama do excesso de folgas dos parlamentares brasileiros – basta haver um feriado durante a semana que a semana inteira vira feriado. Mas é preciso reconhecer que, em muitos casos, é melhor quando os parlamentares não trabalham. Neste momento, por exemplo, 45 dos 55 vereadores paulistanos (a propósito, por que tantos vereadores? Um número entre 20 e 30 não seria suficiente?) assinaram projeto mudando o nome do tradicionalíssimo Viaduto do Chá para “Viaduto do Chá – Mário Covas”.
O ex-governador tem busto no Congresso, é nome de sala na Câmara Federal, é nome do Rodoanel de São Paulo, é nome de parque na avenida Paulista. Covas foi um bom político, decente, respeitável, mas já é nome de muitas obras. Ele próprio, com certeza, seria contra esta medida demagógica: o Viaduto do Chá, inaugurado em 1892, passava sobre as plantações de chá do Barão de Itapetininga, no Vale do rio Anhangabaú e é um símbolo da cidade. É como se, no Rio, alguém quisesse mudar o nome do Corcovado para Corcovado – Oscar Niemeyer. Nem o homenageado gostaria.
Dúvida cruel
Vereador paulistano não tem mais o que fazer?
Mais um
Orlando Pessuti, do PMDB, que foi vice do governador Roberto Requião, é o novo conselheiro da Itaipu Binacional. Vai se sentir bem: lá, como ele, quase ninguém entende de energia (a exceção é Luís Pinguelli Rosa). Vai receber uns R$ 25 mil mensais para uma reunião de três em três meses.
É parte do preço do PMDB para apoiar a ministra Gleisi Hoffman, do PT, para o Governo do Paraná.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.