(*) Carlos Brickmann –
Gente que já viu boi voar e acredita em urubus rosados que nadam nas areias borbulhantes do Deserto de Atacama sabe que há coisas impossíveis: por exemplo, que vários jornalistas tenham a sorte simultânea de descobrir, sem que ninguém lhes conte, que Renan Calheiros e Henrique Alves, presidentes do Senado e da Câmara, usaram aviões da Força Aérea Brasileira para atividades particulares. Alguém contou. Suspeita-se de gente do Governo tentando desviar as atenções, após os dois pênaltis que Dilma bateu para fora, o da Constituinte exclusiva para a reforma política e o do Plebiscito imediato.
Pois não é que, tão logo saíram as acusações contra o senador e o deputado, apareceu a notícia de que um ministro do Governo, Garibaldi Alves, da Previdência, usou um avião da FAB para ir ao jogo do Brasil? Chumbo trocado dói, sim. E pau que dá em Chico dá em Joaquim. O presidente do Supremo, cujo nome vinha sendo citado cada vez com mais ênfase como candidato à Presidência da República, em grande parte por sua postura inflexível, acabou surgindo no noticiário por ter ido ver o jogo com passagem paga por dinheiro público. E ao lado do apresentador Luciano Huck – por coincidência, patrão de seu filho. Joaquim Barbosa diz que não ambiciona ser presidente, mas sabe como é: de repente, pode mudar de ideia, e é melhor abater sua candidatura antes que levante voo.
E Dilma? Dilma tenta reequilibrar-se. Mas quando nem Mercadante comparece à sua reunião de todos os ministros, é bom verificar quem é que lhe sobra.
A voz do partido
O fato é que Dilma vem sendo contestada pelos aliados (o PSB já se foi, o PMDB dificilmente esquecerá que Michel Temer foi ignorado pela presidente e que tanto Henrique Alves quanto Renan são a cara do partido; e o último que pôs a mão no fogo pelo PSD foi o Capitão Gancho); e também por seu próprio PT.
Ouça o deputado federal Devanir Ribeiro, petista da Velha Guarda, amigo e frequentador da casa de Lula: “Quem pediu plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas querem transporte de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir (…) Eu acho que já está na hora de o Lula voltar”.
Sob os meus pés os caminhões
Em São Paulo há um feriadão que emenda o fim de semana na terça, 9 de Julho. Os estudantes estão de férias. E nem assim a crise arrefece: a tal greve geral, promovida por centrais que têm excelentes motivos para ser governistas, pode desfazer-se antes da data marcada, dia 11, mas a paralisação dos caminhões é crise séria.
Desmanchar a irritação dos caminhoneiros é tarefa urgentíssima.
Sobre a cabeça os aviões
Das viagens de Suas Excelências com o dinheiro de Nossas Excelências:
1 – O ministro Garibaldi Alves levou de carona, no avião da FAB, um empresário poderoso, Glauber Gentil, que certamente por coincidência é sócio de seu filho, Bruno Alves, na BRJM Seguros. Garibaldi e Glauber fizeram pela FAB a rota Fortaleza-Rio. Foi um programa bem familiar. Garibaldi ficou no Rio, mas seu filho, o presidente da Câmara Henrique Alves, voltou para o Nordeste pela FAB com a noiva e a família da noiva; e levou também Glauber Gentil.
2 – O presidente do Senado, Renan Calheiros, acabou pagando algum troco pelo uso do avião. Mas reclamou: disse que tinha direito a avião de representação – o da Força Aérea Brasileira.
E desde quando avião militar é de representação?
Eu organizo o movimento
Os casos citados são escandalosos, sem dúvida; mas houve quem trabalhasse para dar ênfase aos escândalos. Num outro caso, em que se envolveu um ministro café-com-leite, sem grandes perspectivas político-eleitorais, o escândalo foi no mínimo do mesmo tamanho, mas repercutiu muito menos.
Deu-se que o ministro da Integração Nacional, Fernando Pimentel, pagou com dinheiro público a passagem, hospedagem, alimentação e turismo de nove blogueiros de diversos Estados nordestinos, que foram especialmente a Brasília para entrevistá-lo. Entrevistas favoráveis, claro. E o esforço de popularização saiu baratinho, para ele.
No pulso esquerdo o bang-bang
Dizem que a história foi assim: Wellinton Costa, assessor do deputado Henrique Alves, presidente da Câmara, foi assaltado em Brasília. Os bandidos revistaram seu carro e levaram uma maleta com R$ 100 mil. Dinheiro que acabara de ser retirado do banco? Não, nada disso: o dinheiro tinha sido retirado há três dias e continuava guardado no carro.
Qual a origem do dinheiro? Wellinton não conta. Em resumo, o assessor de um deputado importante passou três dias carregando uma maleta com R$ 100 mil, de origem não esclarecida, até ser assaltado.
De três, uma: acostumado a Brasília, o assessor não achava que R$ 100 mil fossem muito dinheiro, que merecesse ser guardado em lugar seguro; ou não pode contar de onde vem o dinheiro, o que é curioso; ou não tinha retirado o dinheiro há três dias, e seria interessante explicar o motivo do segredo. É isso, né?
Passe livre
O transporte no país é ótimo, rápido, confortável, barato. Que o digam Garibaldi Alves, Renan Calheiros, Joaquim Barbosa, Henrique Alves e outros.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.