No alvo – Marcado cada vez pela incompetência dos integrantes de sua cúpula, o PT é um partido surpreendente. Nesta segunda-feira (16), o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi provocado por jornalistas para falar sobre os escândalos de corrupção no Ministério do Trabalho, alvo de uma briga interna entre as quadrilhas da legenda, que se engalfinham pelo direito de estar à frente dos desmandos e do desvio de dinheiro público.
Carvalho, com um linguajar muito peculiar ao partido, disse que “o dinheiro público é sagrado e que a picaretagem não pode ter vez”. O mais interessante nesse repentino “bom-mocismo” de Gilberto Carvalho é que tal afirmação serve apenas quando os escândalos de corrupção patrocinados por outros partidos, mas que de algum modo o PT participa, mesmo que indiretamente.
A pressão da imprensa sobre Carvalho se deve ao fato de que a Polícia Federal detectou, durante a Operação Pronto Emprego, deflagrada no último dia 3 de setembro, que o ministro da Secretaria da Presidência era tratado como “interlocutor” pela quadrilha que agia na Ong Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat). Interceptações telefônicas realizadas pela PF mostram que, em maio passado, a quadrilha estava preocupada com perda de espaço no Ministério do Trabalho e com a cizânia na cúpula da pasta. “Gilberto Carvalho irá resolver isso”, diz Jorgette Maria Oliveira, presidente da ONG, em ligação gravada na operação policial.
O secretário da Presidência, que é um olheiro de Lula no Palácio do Planalto, primeiro precisa explicar as entranhas do caso Celso Daniel, então prefeito de Santo André, assassinado porque discordou da destinação dada ao dinheiro da propina cobrada de empresários da importante cidade do ABC paulista. Como a propina era paga por empresários de ônibus, indiretamente o dinheiro saía do bolso do cidadão, que financiava esse crime por meio de passagens mais caras.
Deixando de lado esse episódio bárbaro e cruel, Gilberto Carvalho poderia fazer com que sua fala atravessasse a Praça dos Três Poderes e estacionasse à porta do gabinete do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, que na próxima quarta-feira (18) decidirá sobre a aceitação dos embargos infringentes na Ação Penal 470. Pelo que se sabe, com base nos documentos levantados durante a CPI dos Correios e as investigações realizadas pela Procuradoria-Geral da República, o Mensalão do PT desviou pelo menos R$ 170 milhões dos cofres públicos, sem contar o dinheiro de empresários que alimentaram o caixa do maior escândalo de corrupção da história nacional.
É importante que Gilberto Carvalho saiba que dinheiro público não apenas é sagrado, mas não tem bandeira ideológica. Portanto, não cabe a quem quer que seja defender esses picaretas que foram condenados à prisão pelo Supremo e que já deveriam estar atrás das grades, mas que a reboque de chicanas jurídicas e votos bisonhos de alguns ministros tentam atrasar ao máximo o final do julgamento, como estratégia para que a prescrição seja alcançada.