Escatologia jurídica – Afundando cada vez mais no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história, Gleisi Helena Hoffmann passou a depositar em teorias bizarras suas derradeiras esperanças de salvar o mandato parlamentar. A tese, que entusiasma os advogados dos implicados na Operação Lava-Jato, baseia-se na exploração de pequenas incongruências entre os depoimentos dos delatores, em especial o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a respeito da forma como foi entregue o dinheiro (R$ 1 milhão) de propina da Petrobras para a campanha de Gleisi, em 2010.
Em tese, discrepâncias desse tipo poderiam anular a Lava-Jato como um todo, mas essa tese é tão eficiente quanto a passagem de Gleisi pela Casa Civil. De acordo com o jornalista Élio Gaspari, a situação é complexa e frágil, podendo sofrer uma reviravolta a qualquer momento. “Se o Ministério Público aplicar a “teoria da bosta seca” aos conflitos existentes nos depoimentos de réus confessos da Lava-Jato, aquilo que hoje é uma investigação arrisca virar uma pizza. Bosta seca “é o tipo de coisa que quanto mais mexe, pior fica: mexeu, fedeu”.
A esperança dos desesperados causídicos que defendem a quase indefensável senadora Gleisi Hoffmann não se baseia mais na negação de que ela tenha embolsado dinheiro de propina em 2010, mas na exploração de supostas diferenças nos depoimentos dos delatores sobre quem entregou o dinheiro para a petista. Segundo Youssef, o entregador da propina teria sido seu principal mensageiro, Rafael Ângulo, que não lembra dessa entrega. Ou seja, a ideia é derrubar as acusações que colocaram o mandato de Gleisi na marca do pênalti.
Toda essa estratégia, fraca na opinião dos jornalistas do UCHO.INFO, tende a desmoronar por vários motivos. Um deles é que uma nova vertente da Lava-Jato, agora focada principalmente nas movimentações financeiras da empreiteira Camargo Corrêa, tende a jogar Gleisi, mais uma vez, no olho do furacão, independentemente de qualquer teoria jurídica escatológica. O foco da nova investigação mira as movimentações da empreiteira entre 2008 e 2013, quando a Camargo Corrêa doou mais de R$ 180 milhões a vários candidatos e partidos políticos. Gleisi, que sempre manteve uma relação muito próxima com a empreiteira, foi uma das maiores beneficiadas.
Em 2008, a Camargo Corrêa foi a maior doadora da campanha e Gleisi, na época em que a atual senadora concorreu à prefeitura de Curitiba. De acordo com o site Contas Abertas, “em 2008 a construtora doou apenas R$ 2 milhões para os candidatos nas eleições municipais. Um quarto desse valor foi destinado à candidata à prefeitura da capital paranaense, Curitiba, Gleisi Helena Hoffmann (PT)”.
Gleisi também foi à candidata que apresentou a maior variação patrimonial nos últimos quatro anos. Um crescimento de patrimônio muito superior ao dos seus principais adversários na disputa pelo governo do Paraná. Em relação a 2010, o patrimônio da petista cresceu 118%. Na declaração de bens da candidata do PT causou estranheza à compra de um apartamento de mais de R$ 1 milhão, no Residencial Quartier, que ocupa um quarteirão no bairro Água Verde, em Curitiba. O Residencial Quartier é um empreendimento da Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) – braço da empreiteira Camargo Corrêa, o primeiro construído pela empresa em Curitiba.