Loira em apuros – Guilherme Gonçalves, advogado da petista Gleisi Helena Hoffmann e um dos principais alvos da Operação Pixuleco II, da Polícia Federal, décima oitava fase da Operação Lava-Jato, desmentiu a senadora paranaense, que tentou negar as ligações pessoais e profissionais com o operador do Direito e seu escritório.
“Embora eu conheça o Guilherme da militância do PT, desconheço as relações comerciais e contratuais do escritório dele”, disse Gleisi em desastrada tentativa de escapar do epicentro de mais um escândalo ligado à Lava-Jato.
Guilherme Gonçalves recebeu R$ 7,2 milhões, a título de honorários (sic), de um esquema criminoso ligado ao Ministério do Planejamento, que foi ocupado pelo marido de Gleisi, o também petista Paulo Bernardo da Silva, de 2005 a 2010.
O conhecimento superficial que Gleisi teria de Gonçalves foi prontamente desmentido pelo próprio advogado: “Atuamos na área de direito eleitoral para o PT. Eu advogo no direito eleitoral desde 1996. Advoguei nas campanhas da Gleisi, várias campanhas, não só na última. Foram demandas corriqueiras na área eleitoral”, disse Gonçalves. “Para o Paulo Bernardo advoguei pessoalmente em queixas crimes que propus como advogado dele”, completou.
O advogado, que mantém sua banca no centro de Curitiba – base da Lava-Jato – tenta desmentir a acusação do Ministério Público de que não prestou serviços para a Consist Software, tendo recebido R$ 7,2 milhões de honorários em um esquema fraudulento, conforme suspeita a Polícia Federal.
A Consist Software teria sido usada por organização criminosa para distribuir propinas a partir de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento. O novo esquema descoberto pela Lava-Jato teria como coordenador o ex-tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, preso em Curitiba, e começou a operar no período em que Paulo Bernardo era ministro do Planejamento.
Gleisi Hoffmann já é alvo de investigação da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República. Em delações premiadas, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e o doleiro Alberto Youssef afirmaram que a petista recebeu, durante a campanha de 2010, R$ 1 milhão do esquema de corrupção que durante uma década funcionou livremente na estatal. A aparição do advogado na Pixuleco II complica ainda mais a situação da senadora e de seu marido.
De acordo com a PF, o esquema descoberto na mais recente fase da Lava-Jato predominou até julho de deste ano, beneficiando inclusive a viúva do ex-secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento na gestão de Paulo Bernardo, Duvanier Paiva Ferreira – morto em 2012.
A Operação Lava-Jato mostra que o PT era um dos beneficiários dos valores arrecadados ilegalmente por meio da Consist. “Os ganhos obtidos pela Consist através de seu software de gestão de margens consignáveis eram, em parte substancial, inicialmente direcionados por meio de Alexandre Romano ao Partido dos Trabalhadores”, enfatiza a PF no pedido de prisão de Romano.
Posteriormente, a partir de 2011, os valores começaram a ser repassados por meio de outro operador de propinas, Milton Pascowitch. Um dos muitos delatores da Lava-Jato, o lobista Pascowitch confessou ter intermediado propina da Consist mantendo contato com um diretor da empresa – Pablo Kipersmit – e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Kipersmit foi ouvido pela Polícia Federal no dia 4 de agosto. Ele foi preso temporariamente a 17ª fase da Lava-Jato, atingiu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – que cumpre prisão preventiva. Kipersmit foi solto na noite de quarta-feira (12).
A Polícia Federal afirma que o dinheiro arrecadado ilegalmente pelo ex-tesoureiro do PT também foi usado para o “pagamento de José Dirceu”.
O contrato da Consist foi assinado em maio de 2010, graças a um Acordo de Cooperação Técnica celebrado entre o Ministério de Planejamento, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada. O objeto do acordo era oferecer, via internet, serviços e sistema informatizado de gestão de margem consignável em folha de pagamento de servidores federais.
“O Acordo de Cooperação Técnica permitiu que a empresa Consist gerisse o sistema de pagamentos consignados no Ministério do Planejamento,Orçamento e Gestão, a partir do acesso de dados relativos a mais de 2 milhões de servidores públicos federais”, informa o delegado Márcio Adriano Anselmo, no seu pedido de prisão.
A partir do acesso de dados pela Consist, a empresa era remunerada por bancos – entre eles o Banco do Brasil – e entidades de previdência privada para informar a eles a margem consignável para a concessão de empréstimos a servidores públicos federais.