O “x” do problema

(*) Carlos Brickmann –

A CPI do Cachoeira ameaça terminar em patadas, o senador em risco articula faltas em massa à votação que decidirá o destino de seu mandato (com isso, fica muito mais difícil conseguir os 41 votos pela cassação), e se arrisca, no excelente achado de Joelmir Beting, a ser chamado de Debóchenes.

Mas todos esses são problemas policiais, cuja solução não muda o destino do país. O problema mais sério que o Brasil enfrenta não é Debóchenes, nem a Turma do Guardanapo: é o comportamento da economia. Os juros baixaram, o crédito cresceu, houve incentivos à indústria automobilística, o ministro Mantega determinou que o país se desenvolvesse, mas no primeiro trimestre o crescimento total foi de 0,8% – menos que Rússia, Índia, China e África do Sul, os outros Brics. Nem pensemos na China: a Índia, mais parecida conosco, cresceu 5,3%. O Chile, com muito menos recursos naturais e pertinho do Brasil, cresceu 1,4%.

E os números se referem à economia inteira do Brasil, agricultura e mineração incluídas. A indústria se comportou muito pior: caiu 2,8% de janeiro a abril, apesar dos incentivos, apesar da queda dos juros, apesar do aumento do crédito, apesar das ordens que Mantega, sempre duplicando os “erres”, deu ao PIB. A produção de bens de capital, aqueles que erguem a infraestrutura do país, caiu 9,8% em um ano. Criação de empregos, geração de renda? Talvez mais tarde.

O caro leitor que gosta de política deve lembrar-se da notável frase do marqueteiro James Carville: “É a economia, estúpido”. A economia decide eleições.

Queda para cima

Sabe os juros que baixaram? Uma assídua leitora mostrou sua conta de cartão de crédito, recebida nesta semana: juros de 14,5% ao mês, 419,36% ao ano.

Sabe esses carros sem IPI e com preços mais baixos? Antes deste benefício, gastava-se determinada quantia na troca. Com este benefício, caiu o preço do carro novo – e também o dos carros usados. Paga-se bem mais na hora da troca.

Quem é, quem é

Do jornalista Cláudio Tognolli, pelo Twitter: “Quem é baixinha, gorducha, brava, dentuça, usa vestido vermelho e tem um amigo que fala errado? Não vale a Mônica, do Cebolinha”.

Debóchenes 3×4

1 – Diz que tinha um grande amigo, para quem passava informações falsas sobre operações policiais para ver se ele caía na armadilha e se revelava desonesto. Em resumo, um grande caráter. E ainda acha que foi o amigo que o traiu.

2 – Diz que quer ser julgado pelo que fez e não pelo que disse que faria. Cita, obliquamente, um dos maiores chanceleres franceses, Talleyrand: “A palavra foi dada ao homem para esconder seu pensamento”. Debóchenes talvez se identifique ainda mais com Talleyrand, que foi chanceler, acabou demitido por corrupção, voltou quando o regime caiu e Napoleão tomou o poder, rompeu com Napoleão e conspirou para a volta da monarquia, que lhe garantiu bons cargos.

3 – Diz que é um carola. No Brasil-Colônia, havia santeiros especializados em estátuas com o interior escavado, onde escondiam ouro e diamantes que enviavam de contrabando para Portugal. A estatueta se chamava “santo do pau oco”.

Ratinho que ruge

Como no Facebook, façamos a linha do tempo: depois que o Banco Panamericano recebeu aquele oportuno socorro, o SBT colocou no ar um filme muito bem editado mostrando que José Serra, candidato tucano à Presidência, tinha levado na cabeça apenas uma bolinha de papel (que deixou marca até na tomografia).

Agora escolheu um de seus destaques de maior audiência, o Programa do Ratinho, para que o ex-presidente Lula fizesse propaganda antecipada de seu candidato à Prefeitura paulistana. O candidato, com corte de cabelo assinado por Celso Kamura – cabeleireiro que atende Marta Suplicy e Mariza Letícia, esposa de Lula – entrou como parte da plateia mas foi logo chamado para o palco, onde o animador e o patrocinador só faltaram dizer que ele é bom de organizar Enem.

Dúvida nº 1

Acharam na Câmara Federal uma calcinha de algodão, que caiu do bolso de algum senhor deputado. Dúvida: quantos dólares caberão numa calcinha?

Dúvida nº 2

Puxado pelos salários, o custo da construção civil subiu muito e pesou na inflação. Pesou também no lucro das grandes construtoras, que teve grande queda. Mas um item do relatório da MRV sobre seu desempenho no primeiro trimestre é curioso: “Reconhecemos custos adicionais referentes a um maior volume de contrapartidas a Prefeituras e autoridades”.

Dúvida: de que se trata essa tal “contrapartida a Prefeituras”? E a contrapartida a autoridades, que será que é isso?

A certeza

Sabe o ministro da Defesa, Celso Amorim? É um profissional de múltiplas habilidades: dirigiu a estatal Embrafilme no regime militar, foi ministro das Relações Exteriores de Lula, é ministro da Defesa de Dilma. E também conselheiro de Itaipu, recebendo R$ 19.500 mensais por uma reunião. A seu lado está o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

Quem tem padrinho não morre pagão.