Mergulhada em séria crise econômica, União Europeia recebe alentador Nobel da Paz

Anestésico de ocasião – Nesta sexta-feira (12), a União Europeia foi contemplada com o Prêmio Nobel da Paz de 2012, por causa do seu histórico e importante papel de promover a paz e a reconciliação entre nações. Foi com base neste argumento que o comitê de avaliação do prêmio tomou a decisão de premiar o bloco europeu, não levando em conta a conturbada situação político-econômica que afeta a região.

“A mensagem principal é que precisamos ter em mente o que conseguimos neste continente, e não deixar que ele se desintegre novamente”, disse Thorbjørn Jagland, líder do comitê do Nobel. Segundo Jagland, os países europeus conseguiram pacificar e reconstruir uma Europa destruída pela Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) e colaborar na resolução do conflito nos Balcãs nos anos 1990.

“Durante um período de 70 anos, Alemanha e França se enfrentaram em três guerras (1870, 1914-18 e 1939-45). Hoje em dia, uma guerra entre Alemanha e França é impensável”, afirmou ele. “Isto demonstra como, através de um esforço bem encaminhado e da construção da confiança mútua, inimigos históricos podem virar sócios próximos”, acrescentou.

Thorbjørn Jagland também destacou que a União Europeia conseguiu disseminar seus valores democráticos em outras nações, como a Grécia, Portuga e Espanha, que aderiram ao bloco na década de 80, e até mesmo para a Turquia. Contudo, o líder do comitê deixou de mencionar que o governo turco é acusado pela União Europeia de desrespeitar a liberdade de imprensa e os direitos humanos.

O eventual colapso do bloco econômico pode levar ao ressurgimento “do extremismo e do nacionalismo” no Velho Mundo, movimento que levou a região a “guerras terríveis”, ressaltou Jagland, sem fazer qualquer referência ao avanço dos grupos de extrema-direita em vários países do bloco.

“O comitê norueguês do Nobel quer se focar no que enxerga como o resultado mais importante da União Europeia: sua luta de sucesso para a paz, reconciliação, democracia e direitos humanos”, explicou Thorbjørn Jagland.

A premiação acontece em momento complicado da trajetória da União Europeia, pois diversos países-membros analisam com mais afinco a possibilidade de abandonar o bloco ou, então, promover reformas que garantam a autonomia dos estados. A prevalecer a primeira hipótese, a crise econômica será muito maior do que a atual e se expandirá pelo planeta com impressionante velocidade. No caso de prevalecer a segunda hipótese, a União Europeia entrará em contagem regressiva para o fim.

O erro estratégico

Antes do Tratado de Maastricht, assinado em 7 de fevereiro de 1992 e que sacramentou a unificação europeia, a Europa viveu durante longos anos sob o manto do Mercado Comum Europeu, que permitia aos países da região interagirem economicamente em condições favoráveis no tocante a tributos.

Se na teoria a criação da União Europeia era um sucesso inquestionável, na prática o projeto foi um enorme erro, pois é praticamente impossível aglutinar realidades econômicas e culturas fiscais e tributárias distintas. No momento em que os países-membros se juntaram política e economicamente, a reboque foram as dificuldades de cada nação, sendo que privilegiados foram os países que tinham sob controle a própria economia. O melhor exemplo desse fracasso é a Grécia, que só continua existindo por causa do esforço dos países que lideram a União Europeia em termos econômicos.

No início dos anos 2000, o editor do ucho.info conversou longamente com Lincoln Gordon, embaixador estadunidense no Brasil durante os primeiros anos da ditadura militar e um brasilianista reconhecido internacionalmente.

Questionado sobre as chances de sucesso da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), Gordon foi enfático ao afirmar que a ideia não prosperaria, pelas mesmas razões que a União Europeia começa a fracassar. Não se pode em hipótese alguma apagar o passado econômico e tributário de uma nação apenas para se formar um bloco regional.