Bolsonaro começa a culpar a imprensa pelos ziguezagues da indicação do filho para embaixada nos EUA

O bamboleio existencial que emoldura o governo de Jair Bolsonaro proporciona à massa pensante da população um misto de preocupação com medo, pois o futuro do País vive na penumbra da incerteza e da incompetência.

Sem ter como cumprir as promessas de campanha, todas marcadas pelo radicalismo e pelo ufanismo, Bolsonaro vem se transformando em alvo de piadas e “memes” não apenas por suas declarações estapafúrdias, mas principalmente pelos recuos que é obrigado a protagonizar como forma evitar situações que comprometam sua permanência no cargo. Não obstante, seus costumeiros destampatórios servem de base para um pedido de impeachment, já que o presidente vem incorrendo seguidamente em crime de responsabilidade.

Na terça-feira (20), em rápida conversa com jornalistas que o aguardavam à saída do Palácio da Alvorada, o presidente da República disse que não submeteria Eduardo Bolsonaro, em referência a um possível recuo em relação à indicação do filho pra a Embaixada do Brasil em Washington.

Como noticiou o UCHO.INFO na edição de terça-feira, um possível recuo de Bolsonaro deve-se a uma eventual derrota no Senado, a quem compete aprovar os indicados ao posto de embaixador, entre outros cargos da administração federal previstos na Constituição.

No caso de o plenário do Senado rejeitar a indicação do presidente, a derrota teria consequências amplificadas, pois atingiria o governo, o próprio Bolsonaro e o filho, que continuaria cumprindo mandato de deputado federal, mas com um peso extra e negativo no currículo.

A precipitação de Jair Bolsonaro em relação à representação diplomática brasileira em Washington provocou uma situação de extrema dificuldade, já que um possível recuo, como disse o presidente, teria o sabor acre da derrota. Por outro lado, insistir no plano é tornou-se em risco crescente, pois o governo não está certo da aprovação do nome de Eduardo Bolsonaro pelos senadores.

Esse “vai e vem”, que é acompanhado com proximidade e de maneira silenciosa pelos assessores palacianos, exigiu do presidente uma declaração contrária à da terça-feira. Bolsonaro negou que tenha desistido de indicar o filho para o comando da Embaixada do Brasil na capital norte-americana, mas que isso depende do próprio Eduardo.


“Ele vai ser apresentado ao Senado. Vai ser. Não tem recuo. É o momento certo. E o Eduardo está estudando, está se preparando”, declarou

Não se pode desconsiderar a possibilidade de alguns senadores tentarem “vender caro” a aprovação do nome de Eduardo Bolsonaro, mas, a se confirmar esse cenário, o presidente teria de abrir os cofres do tesouro para não sair chamuscado de uma investida politicamente suicida.

De igual modo é importante acompanhar as declarações do presidente da República, que começa a culpar setores da imprensa pela pressão sofrida pelo filho e pelo próprio governo. Ao afirmar que a imprensa age como “urubu na carniça”, Bolsonaro pode estar criando uma estratégia para desistir da indicação – o que evitaria um vexame político enorme – e colocar seus apoiadores mais uma vez contra os meios de comunicação.

“Vai ser uma sabatina em que todos vocês [jornalistas] estarão lá, todos sem exceção, é igual urubu na carniça, né? Vai estar todo mundo lá de olho. E ele tem de fazer uma sabatina melhor do que se fosse o [chanceler brasileiro] Ernesto Araújo”, afirmou o chefe do Executivo federal.

Vale ressaltar que, apesar dos elogios do pai ao filho, Eduardo Bolsonaro é um néscio em questões diplomáticas, mas sua indicação está sendo defendida pelo Palácio do Planalto com a desculpa de que o deputado federal pelo PSL é próximo da família Trump. O que não garante sucesso no desempenho da função de embaixador. Além disso, a diplomacia norte-americana está em pé de guerra dom Donald Trump, o que vem dificultando o caminho de Eduardo Bolsonaro.

Jair Bolsonaro começa a se movimentar para aplicar um “cavalo de pau” na democracia brasileira. Não se trata de um golpe ou algo correlato, até porque a modernidade não permite mais esses arroubos totalitaristas, mas, sim, de uma moldagem do Estado com base nos interesses da família presidencial. O que por si só é um atentado contra o Estado Democrático de Direito.

Ou os brasileiros de bem reagem urgentemente e colocam um freio nessa sandice, ou todos devem se acostumar com a ideia de que o Brasil está nas mãos de um revanchista ideológico que tenta transformar a própria eleição em senha para a instalação de uma dinastia movida pela arrogância e pela estupidez.