Com o aval de Dilma, Paulo Bernardo participa de solenidades desconexas para garantir terreno a Gleisi

Enxadrismo político – Quando Antonio Palocci Filho foi ejetado da Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff surpreendeu a todos ao anunciar o nome da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) como substituta do petista acusado de tráfico de influência e enriquecimento meteórico. Naquele momento não faltaram críticas à escolha, pois a expectativa de então tem se confirmado ao longo dos últimos meses. Gleisi é protagonista de um desempenho no mínimo apagado.

Ao escolher Gleisi Hoffmann para o cargo, a presidente Dilma levou em consideração o desejo da senadora petista de disputar o governo do Paraná em 2014. E a tese de que um ministério daria visibilidade político-eleitoral à escolhida acabou prevalecendo. Tanto é assim, que o escândalo da empreiteira “Sanches e Tripoloni” foi prontamente abafado. A tal empreiteira ganhou notoriedade por ter financiado a campanha de políticos petistas, entre eles Gleisi Hoffmann, que disputou uma vaga no Senado, e Enio Verri, atual presidente do PT do Paraná. Fora isso, a “Sanches e Tripoloni” forneceu transporte aéreo para o ministro Paulo Bernardo da Silva, que deixou o Ministério do Planejamento e, a convite de Dilma, assumiu a pasta das Comunicações.

Coincidência ou não, a construtora predileta do casal 20 (Gleisi e Paulo Bernardo são casados) venceu uma licitação para as obras do Contorno Norte de Maringá. A empreitada foi suspensa em meio ao escândalo que resultou na demissão do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), em julho passado, quando o TCU detectou uma tentativa de aplicar um sobrepreço de R$ 10,5 milhões no segundo trecho da obra. Agora, feitas as correções determinadas pelo TCU, por um trecho de 17,3 quilômetros de extensão a empreiteira volta a tocar a obra e vai embolsar R$ 120.246.578,83, segundo informa o Diário Oficial da União de 21 de novembro.

A existência de uma ligação entre a “Sanches e Tripoloni” e o ministro Paulo Bernardo foi revelada pelo ex-diretor geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que afirmou ao jornal Folha de S. Paulo, que o petista (que era ministro do Planejamento durante o governo Lula) emitia “ordens superiores” para aditivos em contratos no Ministério dos Transportes e que sua mulher, Gleisi Hoffmann, operaria tais contratos no Paraná.

Em 2010, a “Sanches e Tripoloni” doou R$ 510 mil para a campanha de Gleisi Hoffmann ao Senado Federal e também bancou a campanha de Enio Verri, então chefe de gabinete de Paulo Bernardo no Ministério do Planejamento. Hoje, Verri é deputado estadual.

Diante da nada convincente atuação de Gleisi Hoffmann na Casa Civil, o Palácio do Planalto mudou de estratégia e resolveu se antecipar à disputa pelo governo do Paraná. Assim, Paulo Bernardo, que pode ser uma espécie de candidato-tampão do PT em 2014, tem sido escalado para participar de eventos oficiais que não têm relação com a pasta que comanda. Prova disso é a participação de Paulo Bernardo na solenidade de entrega de 501 residências do programa “Minha Casa, Minha Vida”, em Fazenda Rio Grande, município da Região Metropolitana de Curitiba.

A ordem passada à Caixa Econômica Federal partiu da própria ministra Gleisi Hoffmann, que em uma eventual tentativa de chegar ao Palácio Iguaçu, sede do Executivo paranaense, perderia de lavada para o atual governador, o tucano Beto Richa. Se isso acontecer. Será a segunda derrota de Gleisi para Richa, já que a primeira se deu durante a disputa pela prefeitura de Curitiba, em 2008.

A popularidade de Beto Richa está na casa dos 74%, de acordo a última sondagem realizada pelo instituto Paraná Pesquisas. Por conta desse cenário, veículos de comunicação ligados ao casal 20 passaram a divulgar a tese de que a presidente Dilma Rousseff não permitiria que Gleisi deixasse o governo, sob a desculpa de que a petista paranaense é “imprescindível”. Assim, como mencionado anteriormente, o candidato do PT em 2014, no Paraná, seria Paulo Bernardo, o que explica suas aparições oficiais fora da sua seara. De tal modo, Gleisi adiaria seu plano para 2018, quando supostamente o PSDB não teria um nome forte para disputar o governo de um dos mais importantes estados brasileiros.