Príncipe Saudita investe US$ 300 milhões no Twitter

(*) Cibele Santos, do ProXXIma –

A Kingdom Holding Company (KHC), maior empresa capitalista da Arábia Saudita, anunciou na segunda-feira (19) ter investido US$ 300 milhões na Twitter Inc., maior rede mundial de microblogs com sede na Califórnia. A fatia adquirida não foi revelada, mas, segundo os analistas que estimam em US$ 8 bilhões o valor de mercado da rede social, a participação da KHC deve girar em torno de 3,5% a 3,8% — ou em mais de 8%, caso os mais conservadores estiverem corretos com uma avaliação de US$ 3,7 bilhões.

Apesar da falta de detalhes sobre a transação, o certo é que a medida terá alto impacto estratégico para os dois lados.

No caso do Twitter, notoriamente empenhado na diversificação da sua plataforma, na geração de novas fontes de receita e no fortalecimento das suas operações internacionais, a injeção de US$ 300 milhões aumenta seu poder de fogo para atingir esses objetivos, elevando para quase US$ 1,5 bilhão o capital já reunido neste ano junto a diversos sócios minoritários — o que inclui US$ 400 milhões vindos de diversos capitalistas e cerca de US$ 800 milhões da Digital Sky Technologies, empresa russa que já comprou participação em redes sociais como Spotify, Zynga e Groupon.

As grandes vantagens de o Twitter limitar o número de seus acionistas a um grupo reduzido de investidores seriam tanto não precisar declarar sua receita aos reguladores financeiros, quanto não necessitar de um lançamento das suas ações na Bolsa. Como Dick Costolo, CEO da rede, disse em setembro à Associated Press, “um colchão de liquidez permitiria ao Twitter controlar seu próprio destino, evitando a necessidade de vender suas ações via IPO”.

Naturalmente, há muitos investidores interessados na abertura de capital. A rede bilionária tem cerca de 100 milhões de usuários mundiais ativos produzindo diariamente 250 milhões de tuítes, acessáveis via internet, smartphones ou outros dispositivos móveis, e, segundo a eMarketer, deverá gerar quase US$ 140 milhões de receita publicitária neste ano e US$ 260 milhões em 2012. A navegação do site já está sendo aprimorada para abrir mais espaço aos anunciantes, e a equipe de funcionários aumentou de 250 para mais de 600 pessoas nos últimos 12 meses.

Investimentos principescos

Já do outro lado da equação está o príncipe saudita Al-Waleed Bin Talal Bin Abdulaziz Alsaud, sobrinho do Rei Abdullah, proprietário da KHC e 26º da lista de bilionários da revista Fortes com um fortuna de US$ 20 bilhões. Por meio da KHC, Al-Waleed controla 29,9% do poderoso Saudi Research and Marketing Group (SRMG), que inclui desde publicações, editoras até agências de propaganda e marketing da Arábia Saudita. Além disso é proprietário do Rotana Group, maior conglomerado de mídia e entretenimento do mundo árabe, que envolve produtoras de cinema, revistas, TV, canais de música, gravadoras e outros ativos.

No entanto, mais que sua forte participação na mídia regional e de uma rede própria de TV — a Alarab, que será lançada em 2012 para concorrer com Al-Jazeera e Al-Arabiya –, o príncipe Al-Waleed tem demonstrado claramente suas ambições internacionais desde a década passada: em 1997, comprou 5% da Apple, pela pechincha de US$ 115 milhões; depois pagou US$ 600 milhões por 7% das ações com direito a voto da News Corp. (que, por sua vez, comprou 9,1% do Rotana Group por US$ 70 milhões); investiu US$ 145 milhões na Time Warner; pagou outros milhões por fatias da Motorola, eBay e HP; adquiriu uma fatia considerável do Citigroup; e, em 2010, subscreveu US$ 500 milhões na IPO da General Motors.

Mas por que investir no Twitter, uma rede social que neste ano se revelou uma ameaça à própria monarquia saudita, com seu poder de fomentar a Primavera Árabe? Porque, ao que tudo indica, Al-Waleed é um pragmático que, para se manter no poder, precisa remar a favor da maré. Os sauditas já aderiram à TV por satélite, à internet e à mídia social, e se interessam cada vez mais pelo que acontece no mundo exterior. Como resultado, recentemente o príncipe anunciou um pacote de medidas sociais de US$ 130 bilhões, e, mais que isso, declarou-se favorável a eleições transparentes e à maior participação dos árabes na política.

Oficialmente, a justificativa da transação foi mais genérica: “Nosso investimento no Twitter reafirma nossa capacidade de identificar oportunidades adequadas em empresas promissoras, de acelerado crescimento e de grande impacto global”, declarou em comunicado.