Messias, a economia nacional e a marolinha

    (*) Ucho Haddad –

    Quando, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva percebeu que a vitória nas urnas não lhe escaparia, o messianismo petista saiu do armário para, em curtíssimo tempo, dominar a cena política nacional. Enquanto bravatas eram disparadas aos quatro cantos do mundo, palacianos mergulhavam na lama da corrupção. Nada que fosse novidade, pois o poder envaidece e corrompe simultaneamente. E esse binômio é o que move o mundo político planetário.

    Lula deixou de lado os escândalos protagonizados por companheiros próximos, sempre com o discurso de que desconhecia as respectivas estripulias. Das promessas feitas durante a campanha, o petista pouco cumpriu, se é que assim é pode-se dizer. O grande problema de uma suposta máquina chamada Brasil é a carga tributária, que de 2003 para cá, em escalada persistente, passou a gravitar na casa dos 40% do Produto Interno Bruto. Analisada pela ótica econômica trata-se de uma insanidade, pois nenhuma nação pode ter 40% da sua riqueza dependente da cobrança de impostos.

    Se por um lado o governo do presidente-metalúrgico é míope porque age como se enxergasse apenas aquilo que está diante e muito próximo de si, por outro é astigmático porque a refração deturpada do amanhã produz resultados presentes e ineficientemente múltiplos. Para esconder esse inevitável caos administrativo, o Palácio do Planalto escala eloquentes companheiros que, das tribunas do Congresso Nacional, aspergem mentiras que anestesiam a consciência popular.

    Durante meses a fio, a porção mercador de Lula da Silva recheou o cardápio de muitos parlamentares, pois era preciso encontrar uma desculpa para as inúmeras viagens internacionais do mandatário tupiniquim. Vender é preciso para manter a economia aquecida, é verdade, mas antes desse esforço é preciso saber se o preço é justo e se compensa produzir aquilo que foi vendido.

    Não faz muito tempo, aliados do petista mais importante de nossa Botocúndia batiam no peito ao afirmar que volumosos investimentos estrangeiros desembarcavam no país, o que era anunciado como sinal de confiança na economia nacional, ressuscitada para o mundo no rastro do messianismo petista. Lula da Silva e seus companheiros acreditam que aprumar a economia de um país com dimensões continentais – e problemas idem – é tarefa tão fácil como fazer pipoca no forno de microondas. Ou seja, alguns minutos e pronto. Economia é uma ciência que mescla conhecimentos profundos com malandragem de mercado.

    No começo desta semana, quando a arrecadação tributária do Estado, como um todo, batia na casa dos R$ 400 bilhões, o mercado financeiro vivia momentos de euforia por conta do ingresso maciço de investimentos estrangeiros. Comemorações à parte, raros foram os especialistas que ousaram afirmar com 100% de certeza que os tais investimentos não eram especulativos. Mesmo com a redução dos juros, as taxas praticadas por aqui continuam sendo as mais altas do planeta, situação que atrai até mesmo os mais puros e inocentes investidores, para não dizer especuladores.

    Se os milionários investimentos são especulativos, o Brasil irá de roldão, pois um efeito gangorra colocará a economia nacional em situação de descompasso. Se o dinheiro estrangeiro focar o setor produtivo, é porque os investidores são ortodoxamente heterodoxos, quiçá não sejam irresponsavelmente ousados. Não se trata de naufragar no desânimo, mas compreender de forma cristalina e realista como funciona a economia. Com a cotação da moeda norte-americana rompendo para baixo a barreira dos R$ 2, não há como exportar de maneira competitiva. Sendo assim, inexistem razões para investir na produção, pois quem normalmente compra não quer comprar ou o faz diante de preços mais convidativos.

    Sem a necessária competitividade no mercado externo e com o consumo interno retraído, a indústria brasileira passa a operar com a luz vermelha acesa e intermitente. Isso significa desemprego, que de maneira sintomática representa queda na arrecadação de impostos e aumento das despesas com seguro-desemprego e outros arremedos legais criados para ludibriar a opinião pública. Sem contar que a cornucópia que alimenta as merecidas aposentadorias fica ainda mais comprometida.

    Tão logo chegou ao Palácio do Planalto, Lula da Silva prometeu uma profunda reforma tributária, o que nem mesmo em sonho aconteceu. E isso tem uma explicação. O projeto de perpetuação no poder exigiu do PT palaciano um sem fim de programas sociais, como forma de se criar um curral eleitoral capaz de garantir supremacia contínua nas urnas. De tal modo, reduzir a carga tributária só seria possível no caso de o Brasil conseguir vender mais, o que matematicamente compensaria a perda de arrecadação ocasionada pela redução de impostos. Foi então que Lula, de mala em punho, saiu pelo mundo a vender os produtos brasileiros.

    Como se isso não bastasse, o governo do presidente-metalúrgico se vangloria de ter alcançado a proeza de majorar o salário mínimo para míseros R$ 465, o que a horda palaciana anuncia como sendo uma grande conquista. Com 46 milhões de brasileiros auferindo essa esmola ao final de trinta dias, não se pode esperar que o consumo interno reaqueça, a não ser que os empresários queiram vender para, mais adiante, não receber.

    De salto alto, a surfar nas ondas da própria soberba, Lula da Silva tropeçou feio no primeiro mau humor da marolinha, o que fez com que nossa economia acordasse à porta da UTI. Em hospital particular, é claro, pois a saúde por aqui está a um passo da perfeição.