Preciosa lembrança

Pela primeira vez no Brasil, família recebe diamante fabricado com cinzas de ente querido

(*) Ana Carolina Castro

Leroy da Silva recebe o diamante confeccionado a partir das cinzas do marido, Jorge da Silva.(Clique para ampliar)
Superar a morte de um familiar é extremamente difícil. Por esse motivo, uma empresa suíça oferece uma forma, no mínimo inusitada, de guardar uma lembrança especial dos que partiram: a possibilidade de transformar as cinzas resultantes da cremação em diamantes.

A pensionista Leroy Gaspar da Silva aderiu à ideia e contratou o serviço para confeccionar uma jóia com as cinzas do marido Jorge Gaspar da Silva, militar da reserva que faleceu em 1994, aos 61 anos, devido a complicações cardíacas.

A cerimônia de cremação foi realizada em dezembro do ano passado, já que a Funerária e Crematório Vaticano, de Curitiba, já oferecia o serviço exclusivo desde novembro do mesmo ano. As cinzas foram enviadas à Suíça, onde a empresa Algordanza assume a confecção da jóia e a submete a sessões de alta pressão e temperaturas que chegam a até 1.500ºC durante um período de dois a três meses.

Todo o processo de confecção é acompanhado pela Vaticano, represente da Algordanza na América do Sul, que recebe todas as semanas relatórios da Suíça que comprovam o uso das cinzas na confecção do diamante.

Dos dois quilos extraídos dos ossos de Jorge Gaspar, apenas meio foi usado na produção do diamante. O restante das cinzas permaneceu com a esposa. O custo para fabricar a pedra preciosa varia entre R$12.677 (0,25 quilates) e R$52.330 (1 quilate).O resultado foi uma jóia, do tamanho aproximado de uma ervilha, que possui 0,25 quilates e foi entregue à família no último dia 9.

Casamento de Leroy e Jorge.
Casamento de Leroy e Jorge.
“Quando o corpo está enterrado, no começo todos visitam, mas depois o lugar vai ficando abandonado. Queria fazer alguma coisa para que o velho ficasse perto da gente, então mandei cremar o corpo e fazer o diamante”, conta Leroy, que já declarou o destino da jóia: será dada como presente para a filha, Lígia. “Não preciso do diamante para lembrar do velho, porque ele está sempre perto de mim”, explica a viúva.

Mylena Cooper, diretora do Crematório Vaticano afirma que, apesar de diferente, há mercado para o produto. “Em países em que a cremação é mais popular, como no Japão, onde 90% da população é cremada, transformar cinzas em diamante é muito comum. Quanto maior for a procura pela cremação, maior será a procura por esse serviço”, explica.“O que nos faltava era a credibilidade de ter um diamante pronto. Em média, dez pessoas por mês nos procuravam para esse serviço. Agora, esperamos que esse número aumente”, afirma Mylena. E ela tem razão. A empresa já recebeu uma nova encomenda.

Mas quem procura esse serviço? Segundo Mylena, transformar as cinzas em diamante é uma opção para quem já aprecia jóias, pois a pedra preciosa tem um valor emocional agregado. “A pedra se torna uma herança familiar. Isso faz com que a lembrança da pessoa esteja próxima do corpo de quem a ama”, conclui.