Sarney: entre o “sacrifício” e a cara de pau

(*) Valdecarlos Alves –

Para quem conhece bem a biografia de José Sarney (PMDB) não deve ter se surpreendido com a sua recondução à Presidência do Senado pela quarta vez. A cara de pau do peemedebista é uma marca que o acompanha ao longo de sua carreira política iniciada na República do Maranhão (com todo o respeito ao Estado nordestino).

No dia 16 de novembro de 2010, uma terça-feira, Sarney disse à Imprensa em Brasília que não seria candidato novamente a partir de fevereiro. “Continuo com o mesmo ponto de vista. Não desejo nem quero ser presidente do Senado [a partir de fevereiro]”, declarou.

Teve gente que acreditou nas palavras do parlamentar como quem acredita em duendes, gnomos e fadas. Notícias veiculadas fartamente na imprensa davam conta que o PMDB estaria se articulando para que Sarney permanecesse na presidência do Senado na próxima legislatura. Não deu outra. Afinal, estamos falando do PMDB. Um partido onde a palavra não vale muita coisa e muito menos uma declaração dada à Imprensa, salvo algumas raras exceções.

“Não desejava ser presidente do Senado. Estou fazendo com grande sacrifício, mas apenas porque busquei que encontrassem outra solução e, em face do partido não ter encontrado, comuniquei ontem que ele podia e tinha concordância para submeter meu nome à bancada”, disse Sarney, nesta quinta-feira.

A família Sarney se mantém ilesa ao longo de décadas, mesmo com sucessivos escândalos de corrupção. Todas as grandes investigações contra o senador ou filhos, esbarraram na chamada vista grossa em decisões judiciais ou manobras políticas até hoje muito utilizadas para safar o clã maranhense. O que esperar da próxima legislatura a partir de fevereiro? Eu respondo: nada!

(*) Valdecarlos Alves é jornalista e especializado em Ciência Política. Escreve no “Blog da Folha”, da Folha de Pernambuco.

(Foto: capa do livro “Honoráveis Bandidos”, do jornalista Palmério Doria)