Votação do salário mínimo será prova de fogo para Dilma, que já foi alçada à mira dos sindicalistas

Parada dura – A votação do salário mínimo, marcada para quarta-feira (16) na Câmara dos Deputados, não será tão fácil quanto imaginou a presidente Dilma Rousseff e seus assessores mais próximos. Durante debate sobre o tema na tarde desta terça-feira, o ministro Guido Mantega (Fazenda), escalado pelo Palácio do Planalto para tentar conter os revoltosos, não foi bem sucedido em sua empreitada, que contou com a ajuda de apresentação de gráficos sobre a arrecadação tributária e os gastos do governo.

O Planalto insiste em limitar o novo valor do mínimo em R$ 545, mas a Comissão Geral, criada para discutir o tema, expôs no plenário da Câmara dos Deputados o perigo político que recobre a matéria e que poderia determinar a primeira derrota de Dilma Rousseff no Congresso Nacional, não fosse a truculência do rolo compressor palaciano.

Para colocar mais combustível na já flamejante discussão, alguns líderes sindicais ocuparam a tribuna da Casa para defender um aumento maior para o salário mínimo, que atualmente chega aos bolsos de 50 milhões de trabalhadores. Deputado federal pelo PDT paulista e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva defendeu o valor de R$ 560 para o mínimo. Paulinho da Força, como é conhecido o sindicalista, usou comparações para justificar o pleito dos trabalhadores e apequenar a decisão do governo. O parlamentar disse que os R$ 15 reivindicados pelas centrais sindicais representam apenas R$ 0,50 a cada dia, valor insuficiente, segundo Pereira da Silva, “para comprar dois pãezinhos na padaria”. O presidente da Força Sindical lembrou que os R$ 15 representam R$ 0,06 por hora de trabalho.

Canindé Pegado, da Central Geral dos Trabalhadores, disse que os trabalhadores não podem rasgar o documento firmado com o governo federal e que contempla a política de valorização do salário mínimo, que em sua opinião é um programa do Estado brasileiro, mas não de um governo. O sindicalista da CGT argumentou que o programa acordado com o então presidente Lula garante o crescimento econômico, a distribuição de renda e a redução da pobreza no País. Pegado lembrou ainda que a presidente Dilma Rousseff deve dar continuidade às conquistas do governo Lula.

Como se não bastasse, Wagner Gomes, da Central dos Trabalhadores do Brasil, desafiou a presidente Dilma a dispensar aos trabalhadores “o mesmo tratamento dado aos banqueiros e aos donos de indústrias”.

Líder do Democratas na Câmara, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, da Bahia, que discursou em favor da proposta de se elevar o salário mínimo para R$ 560, disse que basta para tanta o governo federal cortar algumas despesas supérfluas.

Independentemente da reverberação do assunto a partir do plenário da Câmara, a tendência é que, a duras penas, Dilma Rousseff alcance o seu objetivo. A base aliada abriga 400 parlamentares e a aprovação da matéria exige maioria simples, o que em números significa o voto de 257 deputados federais. No contraponto, o Palácio do Planalto terá de digerir a insatisfação dos trabalhadores e também dos aposentados.