Mantega arruma tempo para receber Bono Vox, mas inflação continua cantando como vocalista de “trash”

Fora do tom – Quem lê as notícias sobre o governo de Dilma Rousseff chega a acreditar que a imprensa patrocina implacável perseguição à inquilina do Palácio do Planalto e que o Brasil é uma versão tropical e agigantada da Suíça, país europeu que ao longo dos anos ganhou fama pela tranquilidade econômica e política.

No momento em que o brasileiro se vê às voltas com a inflação, fantasma da economia que se faz presente principalmente nas prateleiras dos supermercados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, há muito na corda bamba, encontrou tempo para se reunir com o vocalista Bono Vox, líder da banda U2, a quem apresentou o projeto de erradicação da miséria, que leva a rubrica do fanfarrão Luiz Inácio da Silva.

O encontro entre Bono Vox e Mantega foi uma armação muito bem desenhada pela assessoria de Dilma Rousseff, que ao se encontrar com o líder do U2, em Brasília, criou uma situação para escorar o ministro que, não é de hoje, está na alça de mira dos palacianos.

Enquanto Guido Mantega explicava a Bono o inexplicável, não sem antes omitir a informação de que o programa Fome Zero serviu para o PT criar e manter um obediente curral eleitoral, o mercado financeiro puxava para cima as projeções de inflação em 2011. De acordo com o sempre esperado Boletim Focus, do Banco Central, analistas de mercado elevaram a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6,02% para 6,26%. Trata-se do quinto aumento seguido na projeção de inflação para 2011. Os mesmos especialistas contemplam o ano de 2012 com mais tranquilidade, quando a inflação deve ficar, pelo menos por enquanto, na casa dos 5%.

Há nesse cenário alguns detalhes que merecem destaque. A previsão anunciada pelo Boletim Focus está muito perto do teto da inflação fixado pelo governo federal, que é de 6,5%. No caso de rompimento dessa barreira, conter a inflação será uma tarefa tão inglória quanto hercúlea. O outro ponto que deve ser considerado é que o aumento do salário mínimo, que nos próximos anos se dará por decreto presidencial, terá como base a inflação do ano anterior e a variação do Produto Interno Bruto. Em outras palavras, o aumento que o governo de Dilma Rousseff concederá ao salário mínimo em 2012 refletirá a instabilidade econômica do corrente ano, além de despejar mais dinheiro no mercado e intensificar a demanda, ingrediente principal para a resistência da inflação.

O Brasil está vivendo aquela folclórica situação do “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”, mas Guido Mantega, que deveria se preocupar com assuntos mais importantes, arrumou espaço na agenda para conversar com Bono Vox. Enfim… (Foto: Dida Sampaio – Estadão)