Sarney defende plebiscito sobre o desarmamento e por tabela pode ter ajudado o filho Fernando

Chumbo trocado – Quem pensa que a campanha pelo desarmamento foi contemplada apenas pela incoerência da ministra Maria do Rosário (PT), da Secretaria Especial de Direitos Humanos, engana-se. O discurso fácil e oportunista do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, também do PT, encontrou eco no palavrório de um xará famoso, o senador José Sarney.

Presidente do Senado Federal e chefe do clã que há cinco décadas manda na política e nos destinos do Maranhão, o mais pobre estado brasileiro, José Sarney inicialmente ignorou a própria história ao defender de maneira obediente o desarmamento, assunto que ressuscitou após o massacre de Realengo, no Rio de Janeiro. Lançada recentemente, a biografia de Sarney traz depoimentos que derrubam esse discurso moralista do senador peemedebista, que afirmou que “andou armado durante um período na década de 60, após um desafeto ter ameaçado arrancar seu bigode com uma pinça. Segundo o peemedebista, era ‘prática’ todo mundo portar armas”.

A decisão do presidente do Senado de encampar a ideia do Palácio do Planalto, que mais uma vez deseja consultar a sociedade sobre a proibição do comércio de armas de fogo no País, não foi um ato isolado, pois há nessa história interesses cruzados. Ferrenho defensor do desarmamento durante o plebiscito de 2005, operação que arrancou dos cofres federais pouco mais de R$ 400 milhões, o ministro José Eduardo Cardozo agora desengaveta um discurso pretérito que o coloca em evidência na mídia nacional.

No rastro desse jogo de faz de conta não é preciso nenhum esforço sobrenatural do pensamento para concluir que o “bom-mocismo” de José Sarney diante dos anseios do ministro da Justiça pode facilitar a vida de seu filho, o empresário Fernando Sarney, que há muito está na mira da Polícia Federal. Como a PF está no guarda-chuva hierárquico do Ministério da Justiça, um José poderá ajudar outro.