(*) Soraia Lobos –
No poema “Ser Mãe”, Coelho Neto se despede com a frase “ser mãe é padecer num paraíso”. Até hoje ninguém provou a existência do paraíso, mas o que se sabe é que a maternidade descarta o ponto final de um ser humano, garantindo-lhe as reticências da vida.
Depois do Natal, o Dia das Mães é o mais movimentado no comércio, fazendo a alegria daqueles que esperam uma data especial para ouvir o retumbar forte e repetitivo da caixa registradora. Muito além do viés material que contorna muitas das datas comemorativas que recheiam o calendário, o Dia das Mães tem como pano de fundo um misto de devoção e agradecimento. Especialmente porque sem elas, as mães, a sequência da vida de cada um estaria fadada ao fim.
Longe do vai-vem que impulsiona as compras, a maternidade é algo ainda inexplicável, mesmo diante das tantas explicações que o avanço da ciência tem nos proporcionado.
Ser mãe não se restringe ao ato de conceber e trazer à luz um filho. Trata-se de uma postura forte e marcante diante da vida. Ser mãe é uma forma de ser e de existir. De pensar e de amar. Com vasta prole, algumas mães encontram dificuldades para o exercício da maternidade. Há mulheres sem filhos que com competência invejável exercitam a maternidade como se mães ao pé da letra fossem.
Ser mãe é um ato contínuo e sem fim. É um exercício de paciência, uma declaração de amor eterno. Ser mãe é ser tudo o dia todo, todos os dias. Há 365 dias no ano para celebrarmos as mães, mas é preciso saber como surgiu a ideia de se criar um dia específico para aquelas mulheres que adoramos incondicionalmente, mas que alguns insistem em achincalhar sem razão alguma.
A Mãe dos Dias
Certa feita, perguntaram a um estudante de ensino médio quem era Tiradentes, e ele, sem titubear respondeu: um feriado.
Ironias à parte, este breve nariz de cera serve para brincar com as datas e seus sentidos que com o passar dos anos se tornaram muito mais datas-chave para o lucro do comércio, do que para homenagear a memória daqueles/ daquelas que em algum momento de suas vidas tomaram para si uma causa e lutaram por ela. Tendo sido reconhecido e posteriormente se tornado data oficial em nosso calendário anual.
O Dia das Mães, por sua vez, não foge à regra. O registro mais antigo de comemoração a esta data que se tem notícia é na Grécia Antiga. Os gregos festejavam, com a entrada da primavera, a Mãe dos Deuses, Rhea.
Na terra da rainha
Seguindo a cronologia vem a Inglaterra. No século XVII, quando chegado o período da quaresma,os 40 dias que antecedem a ressurreição de Jesus Cristo, o quarto domingo deste temporada era dedicado ás mães inglesas operárias. Mesmo a mulher que não fosse mãe, tinha o direito de tirar folga para passar com a mãe. Este dia ficou conhecido como “Mothering Day”. A partir desta data criou-se o “mothering cake”, um bolo feito especialmente às mães, o que deixou o momento ainda mais festivo.
Nos Estados Unidos
Há quem aponte que a escritora Júlia Ward Howe, autora de “O Hino da batalha da república”, como a precursora desta celebração nos Estados Unidos.
Não obstante, a americana Anna Jarvis, da Virgínia Ocidental, que fez da própria história uma campanha para instituir o Dia das Mães, foi quem ficou com o título.
Anna Jarvis era de família simples, seus pais eram pastores. No início do século XX Anna perdeu a mãe. O que a deixou em depressão profunda.
As amigas de Anna para ajudá-la superar a perda, tiveram a idéia de realizar uma festa em memória da mãe falecida, cujo objetivo era eternizar a figura da mãe de Ana, fazendo-a viver pela memória dos que ficaram.
Foi a partir deste momento que Anna Jarvis teve a idéia de estender essa celebração particular a todas as mães vivas ou já falecidas. Seu intuito era fazer com que as pessoas homenageassem suas mães e estreitar os laços dentro da família, além de destacar o respeito que deve se ter pelos genitores.
Por três anos ininterruptos, a moça da cidade da Virgínia Ocidental, lutou para que fosse instituído o Dia das Mães. Só então, no dia 26 de abril de 1910 houve a primeira comemoração, que ocorreu na própria cidade natal de Anna.
O então governador da cidade, Willian E. Glasscock , decretou o Dia das Mães como data oficial daquele estado. Não tardou muito, e o que aconteceu foi um efeito viral. Mais estados norte-americanos aderiram à celebração.
O Sonho e a Frustração
“Não criei o dia das mães para ter lucro”. Esta sentença é da própria Anna Jarvis. Contrariamente ao seu sonho de eternizar a mãe, fazendo um dia festivo, a data com o tempo ganhou um outro sentido: comercial.
Tão logo a data se espalhou pela América, a sua popularidade instigou os comerciantes, mormente os que vendiam flores, destaque para os vendedores de cravos brancos, estes símbolos da maternidade.
No ano de 1923, Anna entrou com um processo para anular o Dia das Mães, dado a sua insatisfação com o rumo que a data tomou, porém sem efeito.
Com isso, ela passou o resto de sua vida lutando para que as pessoas não esquecessem ou deturpassem o sentido da homenagem. Anna afirmava que “o amor de mãe é diariamente novo”, e que os filhos não agradecem por isso.
Ironicamente, Anna Jarvis morreu aos 84 anos, em 1948, sem nunca ter sido mãe.
No Brasil
12 de Maio de 1918. A Associação Cristã de Moços de Porto Alegre promove a primeira celebração do Dias das Mães no país. Em 1932, o então presidente pai dos pobres, Getúlio Dornelles Vargas, institui a celebração no segundo domingo de maio.
15 anos depois é foi a vez da igreja católica se manifestar. O Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro decidiu que a data comemorativa das mães entrasse em definitivo no calendário oficial da Igreja Católica do Brasil.