Empresa de Palocci pode ter operado o caixa 2 da milionária campanha presidencial de Dilma Rousseff

Desvendando o enigma – A cada mil brasileiros, 999 desconhecem o real custo de uma campanha presidencial com chances de sucesso. Quando ouvem que a campanha de Dilma Rousseff não custou menos do que US$ 300 milhões, esses incautos são tomados por impressionante expressão de desânimo. Algo compreensível, pois quem chega ao poder central a bordo de verdadeira fortuna não tem como pensar exclusivamente no povo, pois a contrapartida àqueles que financiaram a custosa campanha precisa existir.

Por ocasião da CPI dos Correios, o marqueteiro Duda Mendonça admitiu ter recebido do PT parte dos honorários da campanha presidencial de 2002 em conta bancária de uma empresa off shore batizada com o nome de Düsseldorf. À época, os partidos de oposição ameaçaram pedir o impeachment do então presidente Luiz Inácio da Silva, mas uma manobra articulada pelo senador José Sarney (PMDB-AP) e a fracassada tese oposicionista de que era preciso garantir a governabilidade impediram qualquer ação contra o ex-metalúrgico.

Aquele não foi o primeiro escândalo da era Lula – o imbróglio de estreia ficou a cargo de Waldomiro Diniz –, mas por pouco o ex-presidente não foi apeado do cargo. Se via de regra a vida é cíclica, repetindo fatos passados, na política o movimento não é diferente. E as coincidências aumentam quando se trata de corrupção e desmandos.

O escândalo envolvendo Antonio Palocci Filho é o primeiro do governo da presidente Dilma Rousseff, mas por trás das acusações contra o ministro-chefe da Casa Civil há algo muito mais complexo e putrefato do que se imagina. A decisão do Palácio do Planalto de postergar ao máximo as explicações reforça as suspeitas de que a abrangência do imbróglio é vastíssima. Em qualquer país civilizado do planeta, uma reles consultoria que fatura R$ 10 milhões (US$ 6 milhões) em apenas dois meses é alvo de investigação imediata.

No Brasil de Lula e seus companheiros, tal situação só é considerada transgressão quando os protagonistas são adversários políticos dos donos do poder. No documento protocolado na Procuradoria-Geral da República pelos partidos de oposição há o pedido para que a empresa “Projeto”, de propriedade de Palocci, seja investigada, mas isso será dificultado ao máximo, pois a contabilidade da consultoria financeira do ministro pode ter movimentado o caixa 2 da campanha de Dilma Rousseff. O que explica o silêncio obsequioso de Dilma e a movimentação de vários governadores petistas, que na segunda-feira (23) desembarcaram em Brasília com a missão de blindar ao máximo o enrolado Palocci Filho.

É importante lembrar que o medo dos petistas com a possibilidade de a verdade vir à tona fez com que o líder do governo da Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), acionasse a Polícia Legislativa para impedir que membros de algumas comissões permanentes conseguissem votar requerimentos de convocação de Palocci.

Enquanto a grande imprensa nacional é atropelada por informações que tentam salvar a pele de Antonio Palocci Filho – a operação estaria sob o comando de Franklin Martins –, integrantes do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, tentam intimidar a prefeitura da capital paulista. Vereador em São Paulo, José Américo (PT) oficiou a Secretaria Municipal de Finanças requisitando informações sobre os funcionários que têm acesso aos dados sigilosos dos contribuintes do Imposto Sobre Serviços (ISS). De acordo com o vereador, os dados da Projeto Consultoria podem ter sido violados por servidores municipais. “Temos indícios de que houve vazamento de informações e que isso pode ter ocorrido na Secretaria de Finanças, especialmente na base de dados do ISS”, afirmou José Américo.

Mais uma atitude desesperada do PT leva a oposição e a opinião pública a exigirem com mais vigor uma explicação de Antonio Palocci, que pode ter utilizado a própria empresa para receber doações que serviram para quitar parte das dívidas da campanha de Dilma Rousseff. Nada custa voltar no tempo e lembrar que Celso Daniel, então prefeito de Santo André, foi morto de maneira bárbara e covarde apenas porque discordou da destinação dada à propina cobrada por petistas de elite (sic), quando o dinheiro deveria acabar no caixa da campanha presidencial de Lula, em 2002.

Resumindo, é preciso saber se os partidos de oposição serão competentes para, comprovada a falcatrua, ingressar com um pedido de impeachment de Dilma Rousseff, pois esse é o tipo de operação que a Justiça Eleitoral em tese não perdoa.