Dilma critica a politização do “Paloccigate”, mas desconhece tese de José Dirceu sobre as evidências

Lado B – Como sempre destacam os jornalistas do ucho.info, cobrar coerência no mundo político é a mais inglória e impossível das tarefas. Até porque, passadas as eleições, os eleitos esquecem o significado de democracia e passam a cuidar dos próprios interesses.

E foi exatamente o que fez o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci Filho, que enquanto deputado federal pelo PT paulista conseguiu a proeza de, em apenas quatro anos, multiplicar por vinte o seu patrimônio, o que só foi possível através da Projeto Consultoria, empresa de sua propriedade.

Na quinta-feira (26), depois de um longo e inexplicável silêncio, a presidente Dilma Rousseff, que foi pressionada um dia antes pelo antecessor Lula da Silva, saiu em defesa do chefe da Casa Civil. Diante dos jornalistas que cobrem o cotidiano do Palácio do Planalto, a presidente usou vários adjetivos para desqualificar as acusações contra Palocci Filho, não sem antes condenar a atitude da oposição de politizar o assunto.

Se coerência não é o forte de dez entre dez políticos, não se deve esperar de qualquer petista um pensamento retilíneo e coerente. Nos tempos em que liderava de maneira estridente as fileiras da oposição, o PT jamais recusou qualquer oportunidade, por mais insignificante que fosse, para estocar seus adversários políticos. E isso aconteceu durante duas décadas a fio.

Quando critica a postura da oposição de convocar Antonio Palocci Filho para explicar ao Congresso nacional e aos brasileiros o milagre da multiplicação, Dilma Rousseff obriga qualquer cidadão de boa memória a voltar no tempo e resgatar um discurso do ex-comissário palaciano e deputado federal cassado José Dirceu de Oliveira e Silva.

À época do escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Anões do Orçamento”, José Dirceu subiu à tribuna da Câmara dos Deputados para afirmar que não eram necessárias provas para se cassar um mandato parlamentar, pois evidências bastavam. Naquela ocasião, Dirceu se referia ao processo de cassação do mandato do deputado pernambucano Ricardo Fiúza, do agora extinto Partido da Frente Liberal, o PFL.

Se aquele discurso de José Dirceu serviu, na opinião dos petistas, como argumento para defender a cassação de Fiúza, o escândalo envolvendo Antonio Palocci Filho é uma vasta seara de evidência, para não afirmar que sobram provas.

Ademais, um dia depois de perder o mandato de deputado federal por conta de seu envolvimento no escândalo do “Mensalão do PT” – a acusação é da Procuradoria Geral da República –, Dirceu disse, no Plenário 13 do setor de Comissões Permanentes da Câmara, que na semana seguinte retomaria a advocacia, pois as despesas pessoais e familiares o impossibilitavam de cultivar o ócio. Desde então não se tem conhecimento de que José Dirceu atuou como operador do Direito em qualquer processo judicial, mas seu patrimônio pessoal cresceu de forma igual ou maior que o de Palocci Filho.