Líder do PSDB no Senado afirma que partido está em transição e que Lula enfraquece governo Dilma

(*) Marileide Alves, da Folha de Pernambuco –

Líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias classifiou o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) de “confuso”, “inseguro”, de desempenho “claudicante” e “ministério fraco”. Na avaliação do tucano, isso se dá, inclusive, por conta da interferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na gestão.

“O ex-presidente Lula se expôs, vindo a Brasília, ocupando o espaço da presidente, numa invasão de competência visível”, critica Dias, nesta entrevista por telefone à Folha de Pernambuco. Com relação ao PSDB, ele afirma que o partido está unido e que os conflitos internos “são naturais”. O senador condena a escolha antecipada de um nome para a disputa da Presidência da República em 2014. Ele considera que é prejudicial para o postulante e defende as eleições primárias como o melhor caminho para a escolha do candidato.

Como anda o PSDB nacionalmente?

O PSDB encontra-se vivendo uma fase de transição, constituindo seus órgãos diretivos, para buscar reorganização e re¬vitalização. Recentemente, tivemos a convenção. Já tivemos a posse do presidente do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissati, e breve teremos a posse do Conselho Político, quan¬do assumirá a presidência José Serra. A executiva já está operando com Sérgio Guerra na presidência.

O ex-governador José Serra continua magoado por não ter sido indicado à presidência do Instituto Teotônio Vilela?

Ah, não creio! Acho que terminou bem o entendimento. É o que eu disse antes, há espaço para divergência, mas se estabelece a convergência quando há competência política. E foi isso que o partido alcançou com sua convenção, que celebrou a unidade. Todos ficaram bem, discursaram, assumiram seus compromissos e assumiram as responsabilidades diante do papel importante que tem o PSDB agora, como oposição e, logo mais à frente, como um partido capaz de oferecer uma alternativa de poder para o País.

E os conflitos internos na sigla?

Os conflitos internos são naturais. E, do meu ponto de vista, são salutares porque o partido não pode ser um curral onde vivem vacas de presépio, dizendo amém a tudo e a todos. Tem que ter o espaço entre o dissenso e o bom senso; para a discordância e a convergência; para a competição e a unidade. E isso se constrói com competência política. A revitalização do partido, inclusive, tem essa contribuição do contraditório se estabelecer internamente e de se oferecer espaço às pretensões políticas de todos os itens.

Na convenção do PSDB, o senador Aécio Neves saiu fortalecido para a disputa da Presidência da República em 2014. O partido está unido em torno dele?

O partido ainda não tem candidatos. Há especulação em torno de nomes: de Aécio, de Serra, de Alckmin, de Anastasia, de Marcone Pirillo. Enfim, são muitos os nomes. O partido tem oito governadores, dez senadores, ex-governadores. En¬tão, é um partido que tem quadros e é muito cedo para discutir um nome. O que o partido discute é a definição do processo, como escolherá o can¬didato em 2014. O partido, através de algumas de suas lideranças, já manifesta simpatia pelas primárias, ou seja, o candidato seria escolhido com a participação de toda a militância do PSDB. Nós teríamos, com isso, a revitalização devido à sua organização mais eficiente, com a valorização dos militantes. Certamente teriam as campanhas de filiação partidária e teríamos o espaço aberto para o surgimento de potenciais candidatos à Presidên¬cia da República. Veja nos Estados Unidos! A campanha das primárias já começou, nesta semana, com o Partido Republicano reunindo, se não me falhe a memória, sete candidatos. Esse é um exemplo. O partido que adotar as eleições primárias para a escolha de candidatos, não só se fortalece interiormente, mas sai à frente diante da opinião pública do País. É um avanço importante, é a ampliação do espaço democrático do partido, é a consolidação da militância para a decisão mais importante que é a escolha do candidato à Presidência. Acho que o maior equívoco do nosso modelo político é exatamente a ausência da participação popular no momento de escolher candidato majoritário.

O que Aécio precisa fazer para pavimentar seu projeto?

Isso é com ele. Eu tenho um pensamento que diverge dessa definição de candidatura antecipada. Isso não é bom, nem para o postulante se expor há tanto tempo das eleições como candidato. A hora é de discutir o processo e de respeitar todas as lideranças do partido. Na medida em que eu sugiro um no¬me, estou menosprezando os demais. Então, não é hora de promovermos uma abstenção partidária, privilegiando alguns, menosprezando outros. A unidade passa exatamente por esse respeito por todas as lideranças. Nós não sabemos quem estará em melhores condições em 2014 para disputar as eleições. Nós não sabemos, não temos a menor ideia de quem será o candidato do PT, por exemplo. Se será Dilma, se será Lula. Então, essa antecipação de nomes não é inteligente.

O senhor acha que o ex-presidente Lula será candidato?

Lula é um candidato sempre. Eu acho que é um nome que o PT tem de popularidade. E evidentemente que, se o Governo não estiver bem, o nome dele possa ser cogitado pelo partido. É uma análise que eu faço à distância. Como oposição não temos nada a ver com isso, não é? Mas… É uma análise que eu tenho o dever de fazer e nós temos que ter essa precaução.

O senhor tem participado das discussões regionais do PSDB?

Não. Tenho me dedicado à minha função de líder (do PSDB) no Senado. É uma atividade que exige tempo integral e dedicação exclusiva. E as questões regionais estão sendo administradas por Sérgio Guerra e a executiva.

Existe alguma possibilidade de fusão entre o PSDB e DEM?

Eu não posso afirmar taxativamente que não existe, mas sou contra. Não defendo a tese. Defendo a constituição de partidos com identidade programática, e a fusão contraria essa estratégia e esse desejo. Porque o PSDB é social-democrata. O DEM e o PSDB são partidos de propostas programáticas distintas. E nós não estaríamos agindo com coerência se fizéssemos a fusão. Uma coisa é a aliança eleitoral, outra coisa é a fusão partidária. Eu não concordo com ela (com a fusão).

Qual a avaliação que o senhor faz do governo da presidente Dilma Rousseff?

Eu vejo um governo confuso, inseguro, dentro das suas próprias mutações, acumulando recuos e escolhendo mal, o ministério fraco, um desempenho claudicante. Eu fico preocupado pelo País. Tenho muito receio que este governo faça muito mal ao Brasil, dispensando oportunidade. E, infelizmente, é o que está acontecendo.

Como o senhor viu as escolhas da senadora Gleisi Hoffmann para a Casa Civil e de Ideli Salvatti para a Secretaria de Relações Institucionais?

Eu não foco nomes. Eu prefiro abordar o modelo. Até porque não pode ser uma crítica pessoal. Acho que o ministério é fraco, muito fraco, muito aquém das expectativas e do merecimento do Brasil. E nós verificamos aqui no Congresso, cotidianamente, os equívocos que o Governo comete nas coisas mais simples. Na elaboração de medidas provisórias, por exemplo. Os equívocos são incríveis. Baseando-se nesse episódio do Antonio Palocci, que revelou toda a insegurança da Presidência da República. Demorou mais de 23 dias para uma decisão, que deveria ter ocorrido logo no primeiro momento, em função das denúncias graves e consistentes que a Imprensa veiculou. Acho que não cabe focalizar esse ou aquele nome no Governo. O conjunto é muito ruim.

Com a saída de Palocci do governo, a crise arrefeceu ou continua?

A crise é contínua exatamente em função da insegurança que há no processo de liderar. A relação com o Congresso continua comprometida pelo modelo adotado, que é o modelo político, que sempre acena com espaços no Governo, cargos comissionados, nomeações, liberação de verbas. Não há mais nem o escrúpulo de se evitar comentar publicamente isso. A ministra assumiu, dizendo: “Eu vou limpar a prateleira. Ou seja, o Congresso Nacional é um almoxarifado para o Governo. E o balcão de negócios, quem adere ganha, quem não adere perde. Isso fisiologicamente. Essa relação não se alterou e é evidente que isso produz crise permanentemente.

O senhor acha que a interferência do ex-presidente Lula prejudica o governo Dilma?

Sem dúvida! Isso se verificou já no primeiro momento, nas nomeações dos ministros. E, no momento crucial da crise, o ex-presidente se expôs, vindo a Brasília, ocupando o espaço da presidente, numa invasão de competência visível, dividindo o poder com a atual presidente. Isso fragiliza a liderança da atual presidente.

Dilma tinha uma posição contra o sigilo dos documentos ultrassecretos e a favor da revisão da Lei de Anistia. Hoje ela não demonstra empenho em acabar com o sigilo e não se mostra favorável à revisão da Lei. Como o senhor analisa essa mudança de posição da presidente?

Isso revela a insegurança da presidente no comando do processo político. Ela está acumulando uma seleção de recuos. Foram vários os recuos. Alguns mais palpáveis, outros nem tanto. Um recuo que eu aponto importante foi em relação a Fernando Henrique. Na campanha demonizava (FHC), dizia que legou uma herança maldita ao Governo Lula. E, agora, recentemente, através de carta, rasga elogios e reconhece que foi Fernando Henrique o principal responsável pela estabilidade econômica do País. Então, há falsidade agora ou durante a campanha? Obviamente isso configura uma espécie de estelionato eleitoral. Usou-se um esforço na campanha para ganhar a eleição e agora há um recuo que acaba por consagrar a existência do estelionato eleitoral.

O PSDB tem posição firmada sobre o sigilo de documentos ultrassecretos?

Em relação à questão que está posta, que é o sigilo, o PSDB concorda com a proposta que veio da Câmara (dos Deputados) que estabelece 25 (anos) prorrogado por mais 25 e fim do sigilo. Por quê? Porque nós temos que escrever a nossa história com a verdade. É um direito do brasileiro conhecer a história do País, e nós defendemos essa posição.

E no caso da revisão da Lei de Anistia?

A Lei não está em debate agora. Vamos aguardar para ouvir a bancada, se isso for colocada outra vez em debate.

E quanto à reforma política. O senhor acha que ela será aprovada ainda este ano?

Eu não gero a falsa expectativa de que vamos concretizar uma reforma política, porque, num presidencialismo forte como o nosso, as reformas de profundidade só ocorrem quando há interesse, disposição política e participação ativa da Presidencia da República liderando o processo. E não há. Então, nós teremos, num esforço do Senado, que pode ser até razoalvemente bem sucedido, mas teremos maiores dificuldades na Câmara, onde o processo será lento. E, no final, o resultado não será o desejado pela sociedade. Nós não vamos alcançar um modelo. Vamos chegar a um modelo político que seja compatível com as expectativas.

Mas e os pontos que são consensos entre os partidos, o senhor acredita que sejam votados este ano?

Os pontos sim, mas, para vigorar no ano que vem, não acredito. Não vejo possibilidade temporal. Teria que estar aprovado e sancionado até final de setembro. Então, acho muito difícil. Há todo esse processo de medida provisória, tranca pauta, a prioridade do Governo, e a produção legislativa fica comprometida. Eu acho difícil vigorar algum dispositivo novo para a eleição do ano que vem, mas evidente que, para 2014, nós teremos algumas alterações. Não de profundidade, repito, mas alguns pontos que são consensuais certamente chegaremos a aprovar.