Raul Seixas que me perdoe, mas o ucho.info nasceu há dez anos atrás

    (*) Ucho Haddad –

    Há dez anos, em 17 de julho de 2001, consegui transformar uma ideia em realidade. Naquele dia, ainda que com muitos defeitos, alcançava a rede mundial de computadores o projeto que resultou de um longo período de estudos e pesquisas. Nascia no berço do jornalismo eletrônico o “UCHO”. Foi “.com.br”, é e continuará sendo “.info”. Mudança necessária por causa da peçonha inimiga, mas que permitiu adotarmos o slogan “A MARCA DA NOTÍCIA“.

    Novamente peço licença aos leitores para escrever na primeira pessoa do singular, algo que fiz em raríssimas ocasiões ao longo desses dez anos, pois sempre acreditei que, apesar de solitário nos seus primeiros e difíceis passos, o projeto era nosso. Meu e do povo brasileiro. Por isso que mesmo sendo singular, uno, ermitão, sempre abusei do plural. Fui e sempre serei “nós”.

    Há quem garanta que nada acontece por acaso. E a cada dia que surge reforço a minha crença nessa tese, mesmo que alguns repitam que em determinadas situações sou conformista. Na verdade, deixei muito claro nesses últimos dez anos que sou merecedor de qualquer adjetivo, menos o de conformista.

    Voltando aos acasos da vida, um dia, ainda no ano de 2000, decidi mudar o itinerário de uma viagem. Depois de ser colocado diante da morte algumas vezes por conta de problemas de saúde, lá na Terra do Tio Sam, desisti de ir ao Timor Leste, onde, por gratidão ao Criador, me dedicaria ao cotidiano político daqueles que naquela longínqua ilha ouviam à época os primeiros sussurros da democracia. Lá estava o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, homem do mundo e da paz, que dispensa qualquer comentário, pois sua grandeza e história falam por si.

    O objetivo inicial era me juntar à equipe de Sérgio Vieira de Mello, mas resgatar o Brasil da hipocrisia que reina na política nacional trouxe-me de volta à terra natal. Muita gente imaginou que voltei a essa barafunda por causa da família, dos filhos, mas realmente o meu retorno se deveu ao Brasil. Os filhos são do mundo, cada um seguirá seu respectivo caminho, esteja eu perto ou não. O Brasil, pelo contrário, também é meu. É nosso, é de 200 milhões de brasileiros, pelos quais luto de forma incansável, sempre na companhia de parceiros absolutamente fiéis.

    Nessa trajetória colecionei um punhado de inimigos, mas conquistei amigos leais e inseparáveis. Ignorei o ódio alheio, pulverizei as cercanias com amor e gentileza. Busquei incessantemente a verdade, fui covardemente alvejado pela mentira. Para sobreviver contei tostões honestos, para continuar existindo recusei milhões dúbios. Mantive a coerência, rechacei o jornalismo de encomenda. Não tergiversei, pois o sono dos justos é o meu objeto do desejo. Enfrentei o lampejo covarde da justiça dos homens, acreditei na providência da justiça divina. Errei porque sempre quis acertar. Acertei porque me resignei diante do erro. Amealhei colaboradores inenarráveis, colhi elogios inesperados.

    Certa feita, um grupo de amigos me questionou sobre um sonho, um projeto futuro. Diante das tantas provações que pontuaram a minha trajetória, e outras tantas que pela frente hão de surgir, disse que por ter recebido muito além do esperado e do merecido nada mais poderia almejar, que não continuar nesse caminho que escolhi como sendo o melhor de todos. Destaquei na ocasião que não há presente maior do que poder escrever. E o presente fica ainda melhor quando há quem leia o que foi escrito. Ou seja, o escriba não existe sem a presença do leitor.

    Quando revisito o passado, logo percebo que valeu à pena ter enfrentado o que enfrentei. Foi bom ter aprendido. Tirei lições das dificuldades. Chorei quando era para rir. Ri para não chorar. Encarei com sobriedade os ataques covardes de que eu e minha família fomos alvos. Fui refém da ira alheia, o que transformou o meu próprio lar em cativeiro. Inúmeras foram as vezes em que deixei de abrir a porta de casa, até mesmo para recolher o jornal do dia. A minha fé em Deus sempre foi incomensurável, mas a insanidade dos inimigos deve ser respeitada. Jamais desdenhei a capacidade de ação e o raciocínio do inimigo. Não temo a morte, mas entendo que ainda tenho muito a fazer pelo Brasil e pelos brasileiros. Enquanto o criador permitir, estarei vivo para continuar lutando por hoje e amanhã.

    Grampos telefônicos, perseguições insidiosas, sequestros, ameaças torpes, destruição de patrimônio, ofertas de suborno, intimidações, pressão oficial, chantagem oficiosa. Tudo isso é coisa do passado, mas que pode ressurgir no futuro. Mesmo assim, insisto na tese de que vale à pena lutar pelo Brasil e pelos brasileiros de bem.

    Jornalismo político foi inventado para monitorar o poder e denunciar suas mazelas constantes. E sem esse ofício eu certamente não existiria. Escrever é o oxigênio do meu segundo seguinte. Meu maior medo é não mais poder escrever, não conseguir proteger os brasileiros do chorume fétido que escorre da política e de seus intermináveis casos de corrupção. Eis a minha crença maior e inabalável.

    Com a devida licença de Raul Seixas e Paulo Coelho, o ucho.info nasceu há dez anos atrás. Há nesse mundo uma infinidade de coisas que não sei demais, o que me empurra para a obsessão pelo aprendizado. Se escrever é o ar que respiro, aprender é a cartilha da fé, a Meca do pensamento, o sândalo da alma.

    Voltei ao Brasil porque “um dia, numa rua da cidade, eu vi um velinho sentado na calçada com uma cuia de esmola e uma viola na mão. O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas”. Eu voltei e criei o ucho.info porque não quero mais ver velhinhos com violas e cuias nas mãos, sentados nas calçadas marcadas pela covardia varonil. Eu não fui testemunha do amor de Rapunzel, nem vi a estrela de David brilhar no céu, mas “pr’aquele que provar que eu tô mentindo eu tiro o meu chapéu…”

    Agradeço a todos que acreditaram em mim e no meu projeto. E àqueles que continuam acreditando. Agradeço a cada um dos que me apoiaram nesses dez anos. Não importa se muitos se foram ou se alguns ficaram. O importante é que levo e levarei todos na alma e na lembrança. Agradeço também aos inimigos, pois só assim consegui ser cada vez mais forte. Agradeço especialmente àqueles que apontaram os meus defeitos e tropeços, pois continuo fiel ao pensamento de que sou o melhor produto dos meus próprios erros.