Demissão de Wagner Rossi não deve afetar relação do PMDB com o Palácio do Planalto

Surpresa? – O Palácio do Planalto divulgou na noite desta quarta-feira (17) que o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Gerardo Fonteles, assumirá a pasta interinamente em substituição a Wagner Rossi, que horas atrás entregou seu pedido da demissão à presidente Dilma Rousseff. Em seu gabinete, a presidente, que foi surpreendida com a decisão do ministro, recebeu o pedido de demissão, na presença do vice Michel Temer, logo após retornar da “Marcha das Margaridas”.

Ao receber o documento, Dilma aceitou sua demissão e, em seguida, divulgou nota dizendo que lamenta “profundamente a saída do ministro Wagner Rossi, que deu importante contribuição ao governo, com projetos de qualidade que fortaleceram a agropecuária brasileira. Agradeço o seu empenho, o seu trabalho e sua dedicação. Lamento ainda que o ministro não tenha contado com o princípio da presunção da inocência diante das denúncias contra ele desferidas”. A nomeação de José Gerardo Fonteles como secretário-executivo do ministério ainda não foi publicada no Diário Oficial da União, mas ele foi designado para o cargo na terça-feira (16), em substituição a Milton Ortolan.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), comentou que até momento não há nenhuma denúncia contra o ministro, que prestou relevantes serviços ao governo e ao Brasil. “A família pediu para ele se retirar do ministério e ele resolveu ceder à família.” Em relação à carona, Vaccarezza argumentou que ninguém acreditaria que um ministro fosse tomar uma decisão favorecendo uma empresa por causa da carona. “Eu acho que tem que ter um limite nas ilações”, provocou.

“O PMDB é um aliado firme. Estamos aqui de braços dados. No parlamento estamos atuando juntos”, garantiu o líder do governo, rechaçando a possibilidade de alguma mudança na relação com os peemedebistas. “O clima está o melhor possível. Sou amigo do Eduardo Henrique Alves e todos os peemedebistas. Não estamos tendo nenhum problema nas votações”, disse, lembrando que há uma obstrução e as votações estão caminhando.

Já o vice-líder do governo na Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR), acredita que houve alguma novidade para que o ministro da Agricultura pedisse para sair.”O que se fala é que o ministro da Agricultura estaria blindado. Eu acho que surpreendeu. Eu imagino que deva ter acontecido um fato novo. Esse episódio último do envolvimento de uma empresa. Eu não tenho os dados para imaginar o que ocorreu.”

Em relação à carona em um jatinho que Rossi aceitou de um empresário não deve ter pesado, mas foi partícipe no processo de saída do quarto ministro. “A carona identificou, eu imagino, aquele faturamento, enriquecimento. A carona em si eu não acho tão grave. Eu acho grave essa empresa. Se ela viesse linearmente. Mas, a partir de licenças que tenham sido concedidas. Talvez seja isso. Eu estou hipotetizando. Isso surpreende, se for verdade”, afirmou Serraglio.

Questionado se haverá uma nova postura na aliança entre o PMDB e o PT, Serraglio respondeu: “Tudo está e a gente não sabe no nível de participação desse ato do vice-presidente. Até onde houve uma interlocução clara, transparente, sincera entre a Dilma e o Michel. E eu não sei.”

O líder o PR, Lincoln Portela (MG) avalia que ainda é preciso atentar para as mazelas nos ministérios “Apesar de termos ido para a independência, nós entendemos que o momento não é um bom momento. E é claro é preciso rever as questões ministeriais”, disse.

Na opinião de Lincoln Portela, a base aliada não está causando dor de cabeça para o governo. “Problemas sempre existiram, mas quando acontece o problema no ministério dos Transportes e a imprensa foi fundamental para elucidação, esclarecimento de muitas coisas. E logo depois que houve uma palavra que ninguém pode ser pautado pela imprensa, isso acabou motivando um pouco mais a imprensa brasileira que, constitucionalmente, está no seu direito de trazer luz às coisas. É claro que isso irá trazer um desconforto a todos.”