(*) Aguinaldo Diniz Filho –
O tímido avanço da economia dos Estados Unidos desde a grande crise de 2008 reflete-se de modo agudo no comércio bilateral entre a sua indústria têxtil e de confecção e a do Brasil. Os números, que não incluem fibra de algodão, são incontestáveis: no primeiro semestre de 2009, tivemos superávit de US$ 46 milhões, que caiu para U$ 40,8 milhões em igual período de 2010. Porém, no acumulado entre janeiro e junho de 2011, nos deparamos com déficit de US$ 53,16 milhões.
Fica muito claro, desde a eclosão do chamado “crash do subprime”, há três anos, o paulatino esforço da indústria têxtil norte-americana de exportar mais para o atrativo mercado brasileiro: suas vendas saltaram de US$ 70,10 milhões, no primeiro semestre de 2009, para US$ 82,59 milhões, no mesmo período de 2010, e US$ 108,84 milhões, de janeiro a junho de 2011. Em contrapartida, também considerando o movimento dos primeiros seis meses de cada ano, nossas exportações caíram de US$ 116,10 milhões, em2009, para US$ 55,68 milhões, em 2011, depois de uma tênue variação positiva em 2010.
O possível agravamento da recessão nos Estados Unidos, em decorrência da crise fiscal expressa na fabulosa dívida pública de quase US$ 15 trilhões, permite supor que, em curto e médio prazos, se mantenha a tendência de contenção das importações e empenho para ampliar as exportações. Há que se salientar, nesse aspecto, a disciplina e comedimento da população daquele país ante as crises, reduzindo drasticamente suas despesas e racionalizando os hábitos de consumo.
Por outro lado, cabe considerar que os norte-americanos continuam donos da maior economia do Planeta. Obviamente, como já demonstraram em outras oportunidades, deverão vencer as dificuldades fiscais, voltando a crescer de modo mais substantivo e, consequentemente, diluindo o valor relativo da dívida em relação ao seu PIB, que representa quase um terço do mundial. Assim, é prudente manter responsável otimismo quanto à retomada das tendências históricas do comércio bilateral de têxteis e confeccionados.
Mais graves do que as consequências da crise na relação direta com os Estados Unidos são os seus efeitos colaterais: à medida que se retrai o grande paraíso comprador de Tio Sam, crescem os olhos dos exportadores sobre o ascendente mercado brasileiro, que, desde 2003, incorporou 53 milhões de consumidores (estudo “O emergente dos emergentes”, da Fundação Getúlio Vargas/Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID).
Lamentavelmente, como sabemos, numerosas fábricas de têxteis e roupas que vêm assediando os compradores brasileiros localizam-se em países alheios às leis de mercado, aos salários minimamente dignos e às normas da produção limpa. São nações que convertem atitudes política e ambientalmente incorretas em estratégias de comércio exterior. Somando-se a isso os impostos e juros elevados que pagamos e o câmbio sobrevalorizado que expiamos, a conta é de um déficit de US$ 2,26 bilhões na balança comercial do setor no primeiro semestre de 2011. Por isso, é urgente a adoção prática das medidas anunciadas pela presidente Dilma Rousseff para mitigar nossas desvantagens competitivas. O tempo pode ser implacável.
(*) Aguinaldo Diniz Filho é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT).