Ávida por manchetes, imprensa vira as costas para os escândalos e mergulha na canonização de Lula

Muita atenção – Confirmando as expectativas, o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, recebeu na manhã desta segunda-feira (31) uma enxurrada de jornalistas, todos sedentos por notícias sobre a saúde de Luiz Inácio da Silva, que de acordo com recentes exames sofre de um câncer na laringe, em estado médio e com 70% de chance de cura.

É verdade que Lula é uma figura pública de destaque – quer pela oposição que liderou em tempos outros, quer seja pelas bazófias que destilou enquanto presidente –, mas a doença do ex-metalúrgico não pode sufocar os escândalos que dominam a máquina pública federal, todos partes integrantes do amaldiçoado espólio deixado aos brasileiros.

O entourage médico que acompanha o tratamento de Lula – privilégio de pouquíssimos brasileiros – sugeriu que ele cancelasse seus compromissos até os primeiros meses de 2012, o que de início foi considerado como um jato de água fria nas pretensões dos companheiros que almejavam pegar carona na popularidade do ex-presidente para garantir melhores posições nas disputas que marcarão as eleições municipais de 2012.

Tecnicamente, a tese acima deve ser considerada plausível, mas assim como ocorreu com a presidente Dilma Rousseff, durante a campanha de 2010, a doença de Lula já foi transformada em ferramenta eleitoral para o próximo ano. Na rede mundial de computadores já espocam manifestações da amestrada tropa de chique cibernética do PT, que atacam de maneira feroz aqueles que entendem que Lula, por mera questão de coerência discursiva, deveria se tratar em qualquer hospital da rede pública. Até porque, o próprio Lula disse, em meados de 2006, que a saúde pública brasileira estava a um passo da perfeição. Uma sonora e conhecida inverdade.

Voltando à imprensa, as recentes demissões no primeiro escalão do governo federal ocorreram por conta das denúncias publicadas nos meios de comunicação, algumas delas sem a devida e necessária prova documental. Tudo ficou na esfera das evidências. O que não se pode é aceitar que o processo de canonização de Lula sirva como borracha para os escândalos de corrupção que dominam o Estado.

Vítimas de câncer morrem dezenas de pessoas diariamente no Brasil, sem que a imprensa dedique uma linha a esses casos em que a falência do Estado é a maior culpada. Querem os jornalistas saber o que acontecerá com a voz de Lula e sua barba decenal.