Exaltação ao policial que prendeu traficante mostra que o Brasil é um país de gerações perdidas

Fios trocados – Não é de hoje que os jornalistas do ucho.info alertaram para o perigo em que se transformou a sensação de impunidade turbinada de maneira escandalosa pelo boquirroto Luiz Inácio da Silva. Logo depois de desembarcar no Palácio do Planalto, no rastro de eleição democrática e legítima, Lula inaugurou a complacência com a corrupção. Com o objetivo de colocar em prática um projeto de poder com direito a pelo menos vinte anos no comando da nação, o ex-metalúrgico capitulou diante da ideia de se criar um sistema de cooptação de parlamentares por meio de pagamento de mesadas regulares. Estava criado o embrião do escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT”.

Por ocasião da gestação do projeto criminoso, muitos palacianos próximos a Lula que se posicionaram contrariamente à ideia. Queriam esses meteóricos doutos outro tipo de modelo de corrupção, o qual passou a vigorar depois do advento do “Mensalão do PT” e que está em vigor até hoje. Trata-se da transformação da máquina governamental em um amontoado de capitanias hereditárias, nesse caso representadas pelos ministérios, autarquias e cargos de destaque na estrutura do Executivo federal. O objetivo era, como ainda é, garantir apoio ao governo federal no Congresso, dando em troca os olhos fechados e os ouvidos moucos diante da contínua pilhagem dos cofres públicos. Até porque, raríssimos são os casos em que um político chega ao comando de um ministério por competência específica, patriotismo ou diletantismo.

No cotidiano, a sensação de impunidade passou a ser percebida com certa facilidade nas ruas e avenidas de muitas cidades brasileiras, onde motoristas criminosos tomam o volante para o cometimento de barbaridades de todos os tipos. Em outras palavras, essa forçada e quase irreversível inversão de valores, que atenta contra o Estado Democrático de Direito, faz com que os cidadãos de bem sejam obrigados a vestir a fantasia do trouxa, pois alarife é aquele que desrespeita e vilipendia o conjunto legal do País.

O ápice dessa sandice em que se transformou a inversão de valores pode ser visto na operação que culminou com a prisão do traficante Antônio Bonfim Lopes, o “Nem”, no Rio de Janeiro. Horas depois de o chefe do tráfico na Favela da Rocinha ser trancafiado em um presídio fluminense, um dos policiais que participou da operação dava entrevistas aos bolhões não apenas pela prisão de “Nem”, mas pelo fato de ter recusado uma oferta de R$ 1 milhão para liberar o traficante.

Quando uma situação como essa, que em países minimamente civilizados é considerada obrigação, é com rapidez guindada ao panteão do heroísmo, é porque a sociedade se acostumou com a presença da corrupção e dos corruptos. Como bem lembrou o leitor Oscar Verzola, “o que é obrigação vira ato heróico”.

Em outro vértice do cotidiano planetário, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, disse na quinta-feira (10) que atual crise que balança a Europa deve fazer com que a década seja perdida para muitas economias ao redor do planeta. De imediato, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, rebateu as declarações de Lagarde e garantiu que isso não acontecerá nas paragens brasileiras, pois o País está preparado.

Considerando a inexplicável exaltação ao soldado que prendeu o traficante “Nem”, o ministro da Fazenda pode ter dado um tiro no pé. Não apenas em questões econômico-financeiras, que é a sua seara, mas porque a vida de um cidadão não é erguida com os balaustres do dinheiro, mas com os pilares da cidadania e da dignidade. Mercadorias que há muito estão em falta nessa louca Terra de Macunaíma.