Dossiê Cayman: obra de ficção sobre fato verdadeiro tem o primeiro condenado pela Justiça brasileira

Túnel do tempo – Quando o fatídico Dossiê Cayman, conjunto de documentos apócrifos sobre supostas contas bancárias pertencentes a políticos brasileiros, veio à tona, em 1998, o editor do ucho.info foi categórico ao afirmar que se tratava de uma obra de ficção sobre um fato verdadeiro. Ou seja, os integrantes do grupo que operava em Miami usaram informações verdadeiras para provocar uma revolução no processo eleitoral daquele ano, ocasião em que o tucano Fernando Henrique Cardoso concorria à reeleição. E a teoria defendida à época pelo editor continua intacta até os dias atuais.

Alguns integrantes do grupo que operava a partir da Florida acabaram presos, permanecendo no Federal Detention Center (Centro de Detenção Federal), em Miami, ao longo de alguns anos. O editor entrevistou diversas vezes dois dos envolvidos no imbróglio, sendo que um deles nos forneceu informações exclusivas, documentos e detalhes impressionantes, os quais derrubariam qualquer contestação, judicial ou não.

Acusado de envolvimento no esquema, o pastor evangélico Caio Fábio D’Araújo Filho foi condenado pela Justiça Eleitoral a quatro anos de prisão, mas cabe recurso. Único condenado no caso até então, Caio Fábio é acusado de ser o responsável pela elaboração e divulgação do tal dossiê. O crime foi agravado pelo fato de ter atingido FHC, então presidente da República.

A decisão de condenar Caio Fábio D’Araújo Filho é da juíza Léa Maria Barreiros Duarte, que tomou por base uma investigação do FBI, a política federal dos Estados Unidos. Responsabilizar o pastor pela produção do material é um ato temerário, pois é sabido que o tal dossiê foi esculpido a muitas mãos, em um espaçoso e bem decorado escritório localizado na elegante Brickell Avenue, na cidade de Miami. Quando muito é possível dizer que Caio Fábio participou da divulgação do conjunto de documentos, como confirmam alguns depoimentos que constam do processo judicial.

Encerradas em 2003, as investigações permitiu à Justiça indiciar dezesseis pessoas: o ex-presidente Fernando Collor de Mello, seu irmão Leopoldo Collor de Mello, Luiz Claudio Ferraz, que negociou a compra do dossiê, o aposentado Raymundo Nonato Lopes Pinheiro, acusado de ser laranja da família Collor de Mello, o pastor Caio Fábio D’Araújo Filho, Honor Rodrigues da Silva, Cláudia Rivieri e outras nove pessoas que teriam ajudado produzir e divulgar o dossiê.

O documento em questão apontava a existência de conta bancária no paraíso fiscal das Ilhas Cayman em nome da empresa CH,J&T Inc., supostamente controlada por Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e Sérgio Motta. A tal conta teria, segundo as denúncias da épcoa, saldo de US$ 368 milhões, dinheiro de propina cobrada durante o processo de privatização das empresas de telefonia.

Por ser o jornalista brasileiro com maior conhecimento do caso, inclusive com acesso a depoimentos reservados e documentos sigilosos, o editor do ucho.info sofreu represálias de toda ordem, como armadilhas sórdidas organizadas por representante da diplomacia brasileira, invasão do seu apartamento nos Estados Unidos, ameaças escancaradas contra familiares, notícias mentirosas plantadas na imprensa nacional, monitoramento contínuo nos EUA e perseguição no Brasil.