Publicitário Nizan Guanaes assume erro em artigo na Folha de S.Paulo

Mea culpa – O artigo de Nizan Guanaes publicado nesta terça-feira, 29, na Folha de S.Paulo, estampa um pedido de desculpas. Causador de polêmica pela autoria do texto-anúncio no qual procurava uma cozinheira, há duas semanas, no mesmo espaço, o dono do Grupo ABC fez mea-culpa: “comunicação não é que o a gente diz, é o que os outros entendem (…) se a minha coluna anterior deu ruído, errei. Porque, querendo me comunicar, não me fiz entender”, escreve.

Nizan minimiza o barulho em torno do assunto. “Quis tão somente escrever um artigo lúcido, leve, para ser lido no em feriado(…) tinha a pretensão de dar um exemplo sobre como os anúncios publicitários nasceram, a partir dos anúncios classificados dos jornais”, explica ao reforçar que é defensor da educação e do empreendedorismo.

É uma resposta ao rúdo que, segundo ele, foi grande, mas que no texto é respondido nominalmente apenas aos companheiros de Folha de S.Paulo. Danuza Leão o acusou de ter sido vendedor demais por não considerar a barreira entre o editorial e a publicidade, enquanto Fernando Rodrigues o criticou pelas palavras carregadas de subjetividades que levam à interpretação preconceituosa, ainda que de forma involuntária.

O empresário também massageou o ego da mídia impressa. Disse ter conseguido comprovar o “impacto e o peso” que tem o jornal Brasil adentro, na mesma intensidade em que compara com a tímida repercussão da internet. “Quem escreve em jornal e depois vai escrever no só no online sente falta daquele componente que reverbera no vizinho do elevador.” (Da redação do AdNews)

Confira abaixo o texto na íntegra

“Errei

Juscelino dizia que com erro não há compromisso. E como sei que comunicação não é o que a gente diz, é o que os outros entendem, se a minha coluna anterior, “Procura-se uma boa cozinheira”, deu ruído, errei. Porque, querendo me comunicar, não me fiz entender.

Não sou preconceituoso, trabalho na pauta do Brasil moderno, vibro com os seus avanços sociais, sobretudo das mulheres e das classes mais pobres de onde vim.

Luto pela educação, pelo empreendedorismo. Respeito e valorizo todo tipo de trabalho. E quis tão somente escrever um artigo lúdico, leve, para ser lido em feriado -era o 15 de novembro, em comemoração pela Proclamação da República.

Meu artigo tinha a pretensão de dar um exemplo sobre como os anúncios publicitários nasceram, a partir dos anúncios classificados dos jornais, e que requisitos esses bons anúncios devem ter: título chamativo, objetividade, ser vendedor e ter clareza de propósito.

Algumas pessoas entenderam o que o anúncio procurava. Recebi centenas de mensagens. A integração com a internet funcionou bem. Minha caixa de e-mails ficou cheia com respostas incríveis de todos os cantos do Brasil.

O ruído começa -se aprendi algo com esse episódio- na distinção clara entre a natureza do anúncio e a natureza do artigo, como bem ponderou a Danuza Leão em seu comentário nesta Folha.

O anúncio tem de ser objetivo, mas o artigo, e aí estou usando o chapéu de colunista, tem de estar atento às subjetividades que Fernando Rodrigues quis me chamar a atenção na sua coluna. É preciso estar atento não só ao texto, mas aos subtextos aos quais devo e prestarei mais atenção.

Na semana seguinte à da publicação do artigo-anúncio, que funcionou como anúncio e foi discutido como artigo, pude acompanhar o impacto e o peso que tem o jornal pelo Brasil. E é incrível.

Por conta da minha profissão, acompanho de perto os avanços da mídia digital. Mas desconfio que estejamos medindo internet e jornal com pesos e medidas diferentes. Misturando artigo e anúncio como não se deve misturar.

Um “banner” pode ter (hoje) mais “clicks” ou “pageviews” do que um anúncio no jornal. Mas “view” e “point of view” são coisas bem diferentes. Há uma diferença entre o impacto que tem o “banner” e o que tem o anúncio impresso. É verdade que não está na moda dizer isso. Aliás, há quem diga que a mídia impressa estaria fora de moda.

Mas nesta semana em que estive no Recife, no Rio de Janeiro, em Salvador e em São Paulo, recebendo currículos de cozinheiras, livros de culinária, vi e senti a força física do peso do jornal e como ele se potencializa quando cruzado beneficamente com a internet.

Acho, portanto, que aqui também devemos separar claramente as coisas entre o visitante na internet e o leitor do impresso. Os anúncios “on” e “off-line”, no número frio que o analista de mídia das agências de propaganda lê, podem ser iguais e comparáveis pela régua da matemática. Na experiência prática, não. Como todo jornalista sabe, o “off” pode ser muito melhor que o “on”.

Quem escreve em jornal e depois vai escrever só no on-line sente falta daquele componente que reverbera no vizinho no elevador e na gente que vem falar na mesa do bar. Esse é o contato, físico, com o leitor.

É como quando fico só mandando torpedos para minha mulher e não ligo para ela, achando que é igual. Mas a impressão da voz é bem diferente da do texto do torpedo.

Portanto, este é um mundo de textos, subtextos e contextos. E ele exige de nós diferentes cabeças tendo apenas uma mesma cabeça. Isso pode nos paralisar com medo de errar. E erraremos. Ou ficaremos tentados a ser mornos, esterilizados para não errar.

O futuro e o jornal do futuro são feitos de tentativas, de acertos e de erros. É um bicho de muitas cabeças, mas não podemos deixar que vire bicho de sete cabeças.

É mais fácil errar rápido do que querermos, num mundo complexo como este, viver sem errar.

Afinal, como diz o velho samba, “perdão foi feito pra gente pedir”.