Menos juros, mais investimentos

(*) Clésio Andrade –

A decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) de reduzir em 0,5% a taxa básica de juros é importante na medida em que injeta um pouco mais de ânimo na economia brasileira que, desde agosto, mostra sinais de desaceleração, consequência, em grande parte, do desaquecimento da economia mundial, principalmente nos Estados Unidos e Europa.

Importante mas não suficiente, diante do cenário negativo traçado pela quase totalidade dos analistas. As autoridades econômicas já anunciam a intenção de facilitar o crédito para incentivar o consumo, com o mesmo objetivo de aquecer o mercado interno e manter o nível de emprego.

Além do crédito, alternativa eficiente para impulsionar o crescimento são os investimentos, públicos e privados. Com a economia no pagamento dos juros da dívida pública, o Governo deveria redirecionar esses recursos para investimento em infraestrutura, particularmente em logística, hoje o principal gargalo ao desenvolvimento nacional.

Um ponto percentual a menos, diante do estoque da dívida pública atual, significa uma economia de R$ 17 bilhões, quase o dobro do investimento deste ano pelo Ministério dos Transportes. Uma redução mais drástica teria reduzido o dispêndio com juros para este ano, que será de nada menos que R$ 240 bilhões.

O Copom poderia ser mais ousado e acelerar o atual ciclo de redução dos juros, uma vez que os indicadores e analistas apontam redução do ímpeto inflacionário e tendência para que se aproxime do centro da meta (4,5%) em 2012. A estimativa Focus para a inflação no ano que vem é de 5,6%. A mudança na metodologia de cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai contribuir para isso.

Ao lado dessa providência, é indispensável que o Governo redirecione os gastos com investimentos e reduza as despesas com custeio e manutenção da máquina pública. Segundo a organização não governamental Contas Abertas, nos últimos nove anos houve um crescimento de 221 mil servidores públicos, um custo de R$ 118 bilhões que representa elevação de 172% no período.

É preciso inverter o constatado nos nove primeiros meses deste ano, em que os gastos com manutenção da administração cresceram 10,6% e as de capital, investimento, caíram 3,7%. O Ministério dos Transportes investiu, entre janeiro e outubro, R$ 9,67 bilhões, 1,8% a menos que no ano passado, segundo informações da mesma Contas Abertas.

São caminhos a seguir para o desenvolvimento e que dependem de outros fatores institucionais, como a conclusão do Plano Real para desindexar a economia, e adoção ampliada do Regime Diferenciado de Contratação, hoje limitado às obras emergenciais com vistas à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpicos, de modo a dar maior agilidade e economia às obras públicas.

(*) Clésio Andrade é senador por Minas Gerais e presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT)