Mitomania é mercadoria que existe aos bolhões nos corredores do Palácio do Planalto

Fazendo figa – Quem analisa os últimos acontecimentos da política nacional não demora a concluir que mentir é algo comum nos corredores palacianos. À época de Lula, o então presidente usava a desculpa do “não sabia” para se esquivar de confusões que poderiam lhe arrancar alguns nada verdadeiros pontos de aprovação popular. Agora, a presidente Dilma Rousseff adota silêncio obsequioso para escapar do vexame que é admitir a institucionalização da mentira.

Há dias, quando decidiu defenestrar o companheiro Afonso Florence (PT-BA) do Ministério do Desenvolvimento Agrário, a presidente Dilma Rousseff usou a incompetência do colaborador para justificar a demissão. Mas esse era um assunto restrito aos bastidores do Planalto. Tão logo a notícia sobre a incompetência de Florence reverberou na mídia, a assessoria presidencial se apressou em desmentir, informando que a presidente lamentava o equívoco cometido por setores da imprensa brasileira.

Como mentira tem pelo menos uma perna curta, a realidade dos fatos veio à tona na posse do novo ministro do Desenvolvimento Agrário, o petista gaúcho Pepe Vargas. Durante o evento, Dilma disse que o novo ministro tinha a incumbência de recuperar o tempo perdido e retomar o diálogo com os representantes dos sem-terra. Em outras palavras, a presidente admitiu que Afonso Florence saiu por incompetência.

Acontece que desta vez a mentira palaciana tem duas pernas curtas, uma mais do que a outra. No discurso de despedida, Florence disse que cumpriu ordens do governo e seguiu o programa determinado pelo Planalto. Resumindo, um interminável duelo de mentiras.

Mas mentir parece ser a especialidade de muitos dos que frequentam o Palácio do Planalto. Na quarta-feira (14), a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), não se incomodou em mentir e garantir a deputados federais que o governo não tinha qualquer compromisso com a FIFA para liberar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa. Com o acordo firmado em mãos, o governo foi obrigado a recuar, reconhecer o compromisso e consentir com a liberação da venda de bebidas durante os jogos da maior competição do futebol mundial.

Esses são apenas dois exemplos de situações que tiveram lugar no calendário semanal e que podem ser consideras verdadeiras odes à mitomania. Ora, se o governo apela à mentira em casos tão simples, imaginar o que ocorre em situações de dificuldade não exige nenhum esforço extra do raciocínio. Diziam as nossas avós que mentir era pecado, mas pelo jeito faltar com a verdade é acessório de mandato.