Governo se faz de surpreso e ordena apuração de denúncia de corrupção em contratos de hospitais

Jogo de cena – A Polícia Federal decidiu abrir inquérito para apurar as denúncias de corrupção reveladas pelo dominical Fantástico, que em sua última edição exibiu imagens de negociações em que empresas oferecem propina para conseguirem contratos com hospitais públicos federais. Em um dos casos, a propina chega a R$ 5 milhões por ano.

É papel da PF investigar denúncias dessa natureza, mas é preciso que o governo deixe a hipocrisia de lado e não pose de surpreso nesse episódio. Mesmo que altamente condenável, a corrupção é parte integrante da vida política nacional. Não se deve questionar o empenho e a capacidade da Polícia Federal para investigar, mas é preciso saber até que ponto os fatos serão esclarecidos. No caso do Dossiê Cuiabá, por exemplo, quando petistas tentaram comprar em 2006 um conjunto de documentos apócrifos contra candidatos tucanos, o delegado federal que ousou investigar a origem do dinheiro que seria utilizado na operação (R$ 1,7 milhão) foi afastado.

Outro exemplo escandaloso é o caso que envolve as obras dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em sua maioria executadas sob a rubrica da urgência, o que permitiu que os alarifes de sempre pilhassem os cofres federais com volúpia indescritível. Orçadas inicialmente em R$ 386 milhões, as obras do Pan 2007 custaram ao contribuinte a bagatela de R$ 5 bilhões. O Tribunal de Contas da União tentou em vão glosar as contas, mas até agora ninguém foi punido.

Se o objetivo do governo federal é investigar operações estranhas, que a PF comece a decifrar o mistério que recobre campanhas eleitorais, sempre mais caras do que os valores declarados à Justiça Eleitoral. Uma campanha presidencial com chances de sucesso custa por volta de US$ 300 milhões. Considerando que em nenhum lugar do planeta a palavra política pode ser traduzida por diletantismo, dedicação desinteressada ou patriotismo, o melhor a se fazer é acreditar que essa atividade lamentavelmente é um negócio escuso e lucrativo.