Envolvido com bicheiro, senador democrata deve explicações sobre contratação de caro advogado

Olho do furacão – Em um país minimamente sério, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) já teria renunciado ao mandato. Tido como um dos mais ácidos e implacáveis integrantes do grupo que faz oposição ao Palácio do Planalto, desde os tempos de Luiz Inácio da Silva, o senador goiano foi flagrado em conversas telefônicas com o empresário da jogatina Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlos, da Polícia Federal.

Nas investigações a PF desvendou a ligação entre Cachoeira e Demóstenes através de conversas realizadas a partir de um rádio-comunicador habilitado nos Estados Unidos. Em uma das conversas, Demóstenes pede ao bicheiro “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil” em uma empresa de fretamento de aeronaves. Em outro trecho do relatório das investigações, a PF destaca que o senador costumava repassar ao empresário diversas informações sobre reuniões reservadas que teve no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.

Diante das proporções do escândalo, o Democratas já deveria ter tomado providências para punir o parlamentar, inclusive com expulsão, a exemplo do que fez com o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Outro detalhe preocupante dessa investigação repousa sobre o fato de que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi oficialmente informado das transgressões cometidas por Demóstenes, mas nada fez.

Há nessa história pelo menos um fato estranho que até o momento não chamou a atenção da imprensa nacional. Repetindo o que fizeram outros tantos políticos envolvidos em escândalos, Demóstenes contratou um conceituado e caro advogado para defendê-lo das acusações. Neste caso, o contratado é Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, famoso por seu livre trânsito nas altas esferas do Judiciário verde-louro e também por cobrar honorários quase impagáveis. Para um político que, em tese, recebe mensalmente apenas R$ 26,7 mil brutos – com desconto o valor cai para R$ 19.357,50 – contratar um dos mais caros advogados do País é no mínimo uma heresia contábil. Ou será que o senador encrencado tem em seu quintal uma cachoeira de dinheiro?