Situação de Demóstenes Torres constrange a oposição, que não tem o direito de escamotear a verdade

Saia justa – Até a Polícia Federal divulgar detalhes da Operação Monte Carlo, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) era dono de um dos mais vigorosos discursos da oposição. Depois que provas colhidas durante a investigação apontaram sua relação próxima com o empresário da jogatina Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador goiano passou a enfrentar um calvário que parece não terminar tão cedo. Para complicar, as explicações para cada fato novo que surge pouco ajudam a amenizar a ação da areia movediça em que se encontra o parlamentar.

Na segunda-feira (26), o senador paranaense Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado, disse que a investigação da PF que une Demóstenes a Cachoeira “cria um grande constrangimento”. Questionado sobre a possibilidade de o Senado criar uma CPI para investigar a ligação de políticos com Carlinhos Cachoeira, preso na operação policial, o parlamentar tucano afirmou que seria “ridículo”, uma vez que os telefonemas entre Demóstenes e o empresário do jogo eram de 2009. “Começaríamos uma investigação no Senado com três anos de atraso”, alegou Alvaro Dias.

Como sabem os leitores, duas das bandeiras do ucho.info são a coerência e a isonomia no trato de fatos políticos. Sendo assim, este noticioso discorda do senador Alvaro Dias, que ao longo dos últimos nove anos tem se destacado no bloco que faz oposição ao Palácio do Planalto.

A tese de que a CPI seria tardia em função da cronologia dos fatos não convence, pois por ocasião da CPI dos Correios cogitou-se o impeachment do então presidente Lula, em função de o marqueteiro Duda Mendonça ter recebido parte dos honorários pela campanha presidencial de 2002 em conta bancária no exterior. Entre a primeira campanha vitoriosa de Lula e a CPI dos Correios, instalada em 2005, existia um hiato temporal de três anos.

A mesma linha de raciocínio se aplica ao caso do ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, que recentemente frequentou a maledicência da oposição. Amigo da presidente Dilma Rousseff desde os tempos da ditadura, Pimentel está sendo investigado por ter prestado serviços de consultoria muito antes de chegar à Esplanada dos Ministérios. Mesmo assim, a oposição cobrou explicação por considerar amorais as tais consultorias, prestadas há aproximadamente três anos.

É o caso do atual ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, que teve o nome envolvido no escândalo do Jampa Digital, projeto da prefeitura de João Pessoa que deveria disponibilizar acesso gratuito e sem fio à internet aos moradores da capital paraibana. O projeto Jampa Digital foi inaugurado há dois anos por Aguinaldo Ribeiro, então secretário municipal de Ciência e Tecnologia de João Pessoa, mas mesmo assim a oposição apresentou requerimento para que o ministro explique-se no Senado.

O ucho.info não tem a incumbência de defender os citados nesta matéria, mas, sim, o dever de manter sua linha editorial em prol da coerência, detalhe que ao longo de onze anos tem feito a diferença no jornalismo que se transformou na marca da notícia.