Os engenheiros da confusão

(*) Carlos Brickmann –

O Governo segurou o preço da gasolina, para evitar inflação (é mais fácil segurar um preço-chave do que conter gastos públicos, cortar mordomias, buscar eficiência). O álcool entrou em crise: com o preço da gasolina artificialmente baixo, foi empurrado para fora do mercado. Resultado: como não é compensador produzi-lo, o investimento em álcool caiu (e o Brasil está importando álcool americano para misturar na gasolina). Como o consumo de gasolina subiu, o Brasil está importando gasolina. Como os preços estão contidos, falta dinheiro à Petrobras para concluir suas novas refinarias. E o Governo procura estimular a produção e venda de automóveis para lutar contra a recessão. Sem as novas refinarias, com os novos automóveis, torna-se preciso importar mais gasolina.

A Petrobras acaba de pedir ao Ministério de Minas e Energia que autorize a mistura de 25% de álcool na gasolina, em vez dos 20% atuais. Tecnicamente, não há problema: a frota brasileira funcionou muito tempo com os 25%. Ambientalmente, é bom: reduz um pouco a poluição dos automóveis. Só que, como não há álcool suficiente, o Brasil terá de importá-lo em maior quantidade. Reduz a importação de gasolina, mas tem de gastar com a importação de álcool.

Lembra do Aprendiz de Feiticeiro, episódio de Fantasia, de Walt Disney, com música de Paul Dukas e tendo Mickey como astro? Mickey achava que sabia ser feiticeiro, mas só provocou confusões com sua bruxaria mal-ajambrada.

Hoje Mickey não teria a menor chance. Há gente mais confusa do que ele.

Bons tempos

Fantasia, que nome ótimo! A gente lembra do presidente Lula com as mãos sujas de óleo, ao visitar um campo de testes do pré-sal; a gente lembra do presidente Lula anunciando a autossuficiência em petróleo. A gente lembra do presidente Lula comunicando que a matriz energética mundial iria mudar, com o combustível verde, renovável, de nossos canaviais. A gente lembra dos especialistas explicando que o álcool de milho americano era inviável pelo custo, incapaz de concorrer com nosso álcool de cana. E é dos EUA que importamos álcool.

Macacão x toga

Como dizia o mestre Millôr Fernandes, “ditadura é quando eles mandam em nós, e democracia é quando nós mandamos neles”. O novo presidente da CUT, Vagner Freitas, ameaçou o Supremo de ocupar as ruas para defender os réus do Mensalão, caso o julgamento seja “político” e não “técnico”. Ou seja, se os réus forem condenados, o julgamento terá sido político; se absolvidos, terá sido técnico. Se, como é possível, alguns réus forem condenados e outros absolvidos, a parte política do julgamento será alvo de protestos, e a técnica não.

O mais curioso da escandalosa ameaça do novo presidente da CUT é que, dos ministros do Supremo, a maioria esmagadora foi nomeada por Lula e Dilma Rousseff, ambos eleitos pelo PT, partido de boa parte dos réus. Se houvesse algum risco de parcialidade ou partidarismo no julgamento – o que o comportamento dos ministros do Supremo, até hoje, mostra não existir – seria o oposto.

Trocando de camisa

Sabe aquela história de que o homem troca de mulher, troca de religião, troca de emprego, troca até de sexo, mas de time não troca? O prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, candidato à reeleição, mostrou que nem disso é capaz: vascaíno, cedeu um prédio público, a Prefeitura, para a apresentação do reforço do Botafogo, o holandês Seedorf, para poder tirar fotos a seu lado.

Seedorf é craque, tem físico impecável aos 36 anos, treina duro, luta pelo seu time, merece a festa que lhe fizeram os torcedores do Botafogo.

Quem não merece festa é Eduardo Paes, candidato que tenta tirar sua casquinha até em festa de batizado de boneca.

O custo, quase nada

O procurador regional eleitoral do Rio, Maurício da Rocha Ribeiro, acha que houve abuso do poder político e uso da máquina administrativa. Esta coluna não é jurídica, mas tudo indica que o procurador tenha razão. O problema é a punição: para que uma multinha como aquela de R$ 5 mil, a que o candidato petista Fernando Haddad foi condenado, por fazer entrevista de uma hora na TV, no programa do Ratinho, antes do início da campanha para prefeito de São Paulo?

Injustiça demonstrada

O caso dos moradores de rua que acharam um saco com R$ 20 mil no meio da rua prova que a opinião pública muitas vezes é injusta com os políticos. Vários multiplicaram suas posses com golpes de sorte como este, só que ninguém acreditou neles.

A única diferença é que os moradores de rua devolveram o dinheiro.

Um dia, quem sabe

Deve ser um recorde internacional: a inauguração do novo Fórum de São José dos Campos, SP, acaba de ser adiada pela quinta vez. O novo prazo, segundo o Tribunal de Justiça, encerra-se em 9 de novembro. Motivo oficial do quinto adiamento: atraso em licitações de informática e de móveis.

A construção do Fórum começou em março de 2005. O interessante é que, já há algumas centenas de anos, sabe-se que os móveis são necessários para o bom funcionamento de uma organização. Por que só terão sido lembrados agora?