Na contramão – O Diário Oficial do Estado de São Paulo publicou uma matéria, na última quarta (11), que causou revolta aos ciclistas. Com o título “mais, ciclistas, mais acidentes” o texto enfatiza o aumento no número de acidentes envolvendo ciclistas.
A reportagem ressalta já no primeiro parágrafo que 3,4 mil ciclistas foram internados em hospitais estaduais em 2011 e isto gerou custo de R$ 3,2 milhões ao governo. O único especialista citado foi o chefe do grupo de trauma ortopédico do Hospital das Clínicas (HC), Jorge dos Santos Silva, afirmando que as bicicletas são opções seguras de lazer em cidades menores que São Paulo.
O médico também informou que já nos seis primeiros meses de 2012 as internações de ciclistas acidentados no HC são maiores do que em todo o ano passado. A reportagem conta com um box com recomendações da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Em um destes espaços a publicação afirma que, por lei, o tráfego de bikes é permitido, porém é pouco seguro. As dicas são para que o leitor “não seja a próxima vítima”.
Apesar dessa falta de incentivo do Estado de São Paulo, a própria legislação federal garante que os ciclistas têm preferência em relação aos veículos automotores. Pelo Código de Trânsito Brasileiro, a bicicleta é autorizada a circular tanto nas vias rurais, como urbanas. Atualmente, há dois tipos de multas para os que desrespeitam os ciclistas. São punidos os que não mantêm distância lateral de 1,5 m ao passar ou ultrapassar uma bike e os que nesta mesma situação não reduzem a velocidade do veículo.
Thiago Benicchio, diretor da associação Ciclocidade, afirmou ao Estadão que o número de acidente se deve ao número desproporcional e à agressividade dos motoristas. “Essa relação só será menos desigual quando houver mais educação da população para aprender a dividir as ruas, mais infraestrutura, com ciclovias e ciclofaixas, e diminuição da velocidade máxima”.
Em nota, o governo estadual afirmou ser “absolutamente favorável à ampliação do uso de bicicletas na capital e em todo o Estado, não só para lazer como também para trabalho”. O órgão disse também que a opinião do ortopedista não reflete o que pensa a administração.
O site Vá de Bike publicou uma matéria criticando a reportagem do Diário. Segundo Willian Cruz, autor do texto, o título “mais, ciclistas, mais acidentes” é o primeiro de muitos erros cometidos. “Um estudo dos lugares mais seguros e mais perigosos para se pedalar na Grã-Bretanha, divulgado em 2009, mostrava que a taxa de acidentes com ciclistas costuma ser mais baixa onde há mais bicicletas circulando”, afirmou.
Segundo o Vá de Bike, o fato dos automóveis causarem muitos dos acidentes envolvendo ciclistas é desconsiderado. “A matéria ignora que ciclistas que pedalam nas ruas dificilmente caem sozinhos. Desconsidera que traumas graves nos membros inferiores são geralmente causados por rodas ou para-choques de veículos maiores. Também ignora solenemente os atropelamentos e ameaças à vida do ciclista, sejam intencionais, por imperícia ou negligência na condução do veículo maior. Mostra desconhecimento do Código de Trânsito e da prioridade de circulação nas vias”.
A falta de dados precisos também pode ser questionada. De acordo com Thiago Benicchio, o número de mortes de ciclistas permanece estável nos últimos anos. Segundo dados da CET, o total de mortos na capital foi de 61 em 2009 e se estabilizou em 49 em 2010 e 2011.
Benicchio disse à “Folha de S. Paulo” que ao invés de apontar dados e informações sobre como favorecer o ciclismo seguro nas grandes cidades, o Diário limita-se a culpar os ciclistas. “É como dizer: não saia a pé na cidade, já que o maior número de mortes no trânsito é de pedestres.” (Do CicloVivo)