Recurso ao STF para reverter cassação é um direito que Demóstenes tem como cidadão

(Foto: Antônio Cruz - ABr)
Está na lei – Entre a tentativa e o sucesso há uma considerável distância, mas a decisão de Demóstenes Torres, senador cassado, recorrer ao Superior Tribunal Federal para eventualmente recuperar o mandado faz parte da democracia. Fora isso, a decisão anunciada na quarta-feira pelas redes sociais reforça o discurso do agora ex-senador, que nos discursos proferidos em sua própria defesa falou reiteradas vezes em amplo direito de defesa. E é exatamente isso que Demóstenes buscará na Suprema Corte.

Fosse um integrante da base aliada, como noticiou o ucho.info na edição de quarta-feira, dificilmente Demóstenes Torres teria perdido o mandato. No máximo sairia chamuscado e seria obrigado a um silêncio obsequioso durante alguns meses, até retomar a conhecida eloquência.

Entre os oradores inscritos na sessão que ceifou o mandato de Demóstenes Torres estava o senador tucano Mário Tucano, do Pará, que em mais uma fala contundente disse que moralidade é algo que inexiste no Senado Federal. Como dizia o folclórico Mão Santa, “atentai bem”, pois trata-se de uma revelação que confirma o pensamento de nove entre dez brasileiros.

Como noticiamos, Demóstenes Torres foi cassado não pela quebra de decoro, pois casos piores já ocorreram na Casa, mas pelo espírito de vingança que tomou conta do plenário, dominado com largueza por petistas e governistas. Além de crítico ácido do governo do PT, Demóstenes, sempre dedo em riste, dificultou sobremaneira o trabalho da base aliada. E a cassação do seu mandato foi o troco dado pelos incomodados. O placar, 56 votos a favor e 24 contra, mostra que até senadores da oposição optaram pela cassação, pois o momento é de tentar recuperar a credibilidade da Câmara Alta.

Em relação à quebra de decoro, a referida transgressão política é como matar alguém a facada. Não importa se a vítima tombou apenas com a ponta da faca ou foi obrigada a enfrentar o cabo e a bainha da arma. Em passado não tão distante, Renan Calheiros e José Sarney se viram em palpos de aranha por causa de quebra de decoro, mas salvaram os respectivos mandatos porque são destacados integrantes da base governista. O que mostra que política há muito deixou a ideologia de lado para dar passagem aos interesses cada vez mais sórdidos de uma minoria sempre privilegiada.

Voltando ao cerne da matéria, o recurso ao STF a que Demóstenes se referiu não deve ser contestado, mesmo que mínimas sejam as chances de êxito. Ao ex-senador foram negadas diversas prerrogativas constitucionais, a começar pelo amplo direito de defesa, o que engloba perícia nas provas apresentadas e validação das gravações feitas pela Polícia Federal, que na opinião deste noticioso continuam sendo ilegais, pois a ação policial ignorou o chamado foro privilegiado.

De igual maneira, a esquerda verde-loura não tem como contestar a decisão do cassado senador, pois os esquerdistas paraguaios, que têm o incondicional apoio do Palácio do Planalto, tentam provar na Justiça do país que Fernando Lugo foi ejetado da presidência sem o amplo direito de defesa. Resta torcer para que pelo menos uma vez na vida os petistas mesclem coerência com ideologia, pois democracia é boa quando vale para todos e de forma indiscriminada. Não sendo assim, é ditadura.