Muda Brasil, antes que eu seja obrigado a fazer isso!

    (*) Ucho Haddad –

    Como citei no artigo anterior, fazer jornalismo é um desafio constante, mas ter opinião é roleta russa no Brasil, país dominado por um regime que falseia de forma vergonhosa quando tenta falar de democracia. Ser contrário ao status quo político é quase um crime, se considerada a covardia dispensada aos que criticam o sistema e os donos do poder. Em outras palavras, ou o sujeito adere à claque do esquerdismo populista que aí está, sem direito a contestações, ou deve estar preparado para a qualquer momento entrar na mira da tropa escolhida a dedo e bem paga para infernizar os “adversários”. Assim tem acontecido com os jornalistas que não se curvam ao dinheiro imundo desses saltimbancos e ousam discordar de uma infinidade de desmandos e erros.

    Quem desconhece os bastidores chega a pensar que se trata de alarmismo, mas é cada vez mais difícil enfrentar os operadores do projeto de poder que está em marcha. Desde que passei a criticar as mazelas do governo atual, assim como fiz com governos anteriores, inúmeras foram as ações para me calar, sem que nenhuma tenha emplacado até então. Enquanto ações dessa natureza surgem com mais frequência, como forma de evitar a disseminação da verdade, o governo anestesia a opinião pública com medidas tão pontuais e embusteiras quanto pirotécnicas e populistas. Em outras palavras, numa ponta tenta-se calar quem tem raciocínio lógico e forma opinião, em outra engana-se os desavisados que se deixam levar por promessas levianas. Eis a receita ideal para se implantar uma ditadura civil, a chamada ditadura ideal, se é que isso de fato existe.

    Quando a tática de sufocar o pensamento alheio não funciona, entram em cena estratégias mais sórdidas, como, por exemplo, acusações descabidas, ataques cibernéticos, perseguições constantes e estrangulamento financeiro. Eis o modus operandi da máfia política que domina o País. Defender-se desse tipo de ação exige tempo e disposição de sobra, equilíbrio emocional da melhor qualidade e punhados de dinheiro, pois bons advogados não trabalham de graça. É o que tem enfrentado o jornalista e amigo José Nêumanne Pinto, que na opinião de alguns supostos arautos da moralidade cometeu o equívoco (sic) de lançar um livro que conta um sem fim de verdades sobre Lula, há muito incensado como uma espécie de Messias genérico e tupiniquim. Foi o bastante para que a dignidade e a retidão de Nêumanne fossem enxovalhadas, como se uma história impecável pudesse ser liquidada como incômoda mercadoria em final de estação.

    Liberdade de expressão e direito de opinião deveriam existir de forma simultânea e interdependente, coesa, quase siamesa, mas no Brasil levar esse binômio adiante é tarefa que começa a beirar o universo da impossibilidade. Quem acredita que democracia é o que vivemos, por certo desconhece o que isso representa em sua plenitude. Democracia não é ter crédito fácil, sair às compras, matar a vontade de ter e depois esgueirar-se diante de um amontoado de carnês atrasados. Isso é cortina de fumaça para impedir que a maioria veja a dura e temerosa realidade. Democracia existe no momento em que o pensamento é livre e quando quem pensa assume as consequências das opiniões que emite. Não pode ser considerado democrático o regime que descarta o direito ao contraditório. Democracia surgiu como a arte de unir os oximoros, caminho que deve continuar trilhando.

    Assim como José Nêumanne, desde já respeitada sua indiscutível importância como jornalista e pensador, sofro de igual modo, e não é de hoje, as consequências desastrosas de ações deflagradas para calar minha voz e cercear minha opinião, que se alastram mais e mais pela rede mundial de computadores, incomodando os poderosos. Não o fazem no “estilo clássico” das ditaduras que conhecemos ao longo da história, com a borracha cantando no dorso inimigo e a máquina de choque arrancando confissões inexistentes, mas atentam contra a dignidade dos que emitem opiniões indesejadas como se nada na vida alheia importasse. Enfrentar esse vento contínuo de autoritarismo, que sopra de maneiras distintas e múltiplas e debaixo de camuflagem, é tarefa hercúlea que exige resistência física e tenacidade psicológica, como já mencionei.

    Até quando será possível resistir? Difícil prever, pois o físico e a psique têm seus limites.

    Agem assim para mudar ou eliminar as opiniões que lhes incomodam. Perseguem por todas as partes para aterrorizar. Patrocinam ataques tecnológicos na tentativa de destruir uma história de luta e para intimidar. Estrangulam financeiramente para levar o adversário ao desespero e à desistência. Fazem o que bem entendem porque têm a caneta na mão, são desprovidos de escrúpulos, acreditam que o fim justifica os meios, ignoram o significado de humanidade, desconhecem o legado da liberdade. Fazem o que bem entendem porque são criminosos profissionais e convictos, porque creem piamente na impunidade.

    Até quando será possível resistir? Difícil prever, pois o futuro torna-se cada vez mais opaco.

    É preciso fazer algo com extrema urgência e em todas as direções, pois do contrário os brasileiros serão forçados a um sistema que se situa a léguas da liberdade. Se até os Poderes do Estado estão sofrendo pressões e intimidações, sem contar a infestação por “apaniguados”, não é difícil imaginar o que passam os que emitem opiniões contrárias à cartilha dos que em tese mandam. Beira o impossível dividir as horas do dia entre o jornalismo opinativo de qualidade que sempre fizemos e as estratégias a serem adotadas contra os seguidos ataques aos nossos equipamentos de trabalho. De tudo que tentei junto com a equipe, nada os detém nessa operação castradora e rasteira.

    Até quando será possível resistir? Difícil prever, mas possivelmente até quando os recursos materiais permitirem.

    Contempla a insanidade conviver com esse tipo de situação, mas continuarei resistindo por patriotismo, pelo compromisso que assumi com o meu país e com todos os brasileiros de bem. Resistirei até a última fronteira do suportável. Depois disso, o meu destino estará, como sempre esteve, nas mãos de Deus, que me concedeu o dom da escrita e a dádiva da lucidez. Resistirei até o final sem mudar de lado, pois minha convicção não me permite tal atitude. Qualquer decisão contrária seria um harakiri da consciência. Se for para cair, a queda será em pé e com “artilharia” pesada. Continuarei escrevendo e palpitando, mesmo que para isso tenha de abandonar a terra natal, como outros tantos intimidados pelo poder já fizeram.

    Por enquanto não tem “bye, bye, Brasil” e muito menos até logo, mas se for preciso confesso que pensarei no caso. Muda Brasil, antes que eu seja obrigado a fazer isso!