O tempo passa, a uva passa

(*) Carlos Brickmann –

O mundo gira, as horas voam, mas, como na precisa descrição de Minas Gerais feita por seu governador Magalhães Pinto, o Brasil continua onde sempre esteve. Renan Calheiros, que já foi certa vez obrigado a renunciar para escapar à cassação, é não apenas líder do PMDB como pretende ser o sucessor de José Sarney na Presidência do Senado. E Sarney? Sarney, certamente, estará disponível daqui a alguns anos para ser o sucessor de Renan na Presidência do Senado.

O Brasil está onde sempre esteve, mas algumas coisas mudam. Renan era inimigo de Sarney, e ambos eram inimigos de Lula; hoje, Renan e Sarney são amigos de infância, e Lula é padrinho de Renan. Os três eram inimigos irrevogáveis de Paulo Maluf, mas formam hoje uma grande família. Mais do que afrodisíaco, como dizia Ulysses Guimarães, o poder faz com que aflore o lado bom de cada um e deixe os políticos cheios de amor para dar (e receber).

A lição do filósofo Aloízio Mercadante, de que tudo que é irrevogável pode ser revogado, paira sobre o país. Renan Calheiros era comunista dos mais ferozes, José Sarney era a voz civil da ditadura militar, Lula nasceu para combater a ambos e liderar passeatas com o slogan “Uh, uh, uh, Maluf no Carandiru” – uma referência ao grande presídio paulistano. Mas todos se abraçaram, convencidos de que só o amor constrói. E, quase 30 anos após o fim da ditadura, são seus nomes que continuam no noticiário. Amor a dinheiro e verbas também é amor.

O tempo passa, e o Brasil é o mesmo. Mas enrugado como uma uva passa.

Mil e uma inutilidades

A Bombril, produtora da tradicional esponja de lã de aço, está entrando no mercado de cosméticos. Entra na hora certa: com tanta gente feia no Governo, homens e mulheres, um bombrilzinho esfoliante no rosto só pode melhorá-lo. E há certeza de vendas maciças de cosméticos para políticos se a empresa lançar um produto inovador: uma linha hidratante para a pele com óleo de peroba.

Recado um

Marcos Valério, acusado de operar o Mensalão, mandou um recado claro e ameaçador a pessoas que, imagina, possam ter a intenção de lançá-lo às feras: “Eu sou igual ao Delúbio. Nunca endureci o dedo para ninguém”.

Lendo cuidadosamente: Marcos Valério diz que sua opção é não dedar ninguém. Mas, se a opção escolhida é esta, isso significa que há outra opção rejeitada. Se tivesse outro tipo de formação, saberia direitinho quem e o que dedar.

Poliglota

Há idiomas tão expressivos! Em italiano, uma palavra exprimiria a frase de Valério. É omertà. Na onorata società, usa-se como “código de silêncio”.

Recado 2

De repente, não mais que de repente, sai uma reportagem em horário nobre na Rede Record contra Carlos Augusto Montenegro, proprietário do Ibope. Numa só matéria, um ataque – contra a empresa que tem na Rede Globo uma de suas maiores clientes; uma advertência, de que as emissoras ligadas à Igreja Universal estão insatisfeitas com sua posição nas pesquisas (e se previnem contra eventuais problemas de audiência nos Jogos Olímpicos); e uma informação, a de que estão prontas para repelir ataques de meios de comunicação que consideram inimigos.

As promessas…

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, pretendem aproveitar a viagem a Londres, antes dos Jogos Olímpicos, para trazer ao Brasil o Museu da Ciência. Aqui, em parceria com o Governo Federal, os ingleses contribuiriam para a montagem de museus de ciência e tecnologia em estádios da Copa de 2014.

Tudo bem – mas a viagem de Dilma e Mercadante à China terminou com a promessa de instalar no Brasil uma fábrica de telas para Ipad, com investimento chinês de US$ 12 bilhões e criação de cem mil empregos, que entraria em produção até o fim de 2011. Já estamos em 2012, os chineses se dizem dispostos a abrir a fábrica, desde que com tecnologia antiga e dinheiro do Governo, e a história dos cem mil empregos é totalmente delirante.

…e os fatos

A propósito, o melhor museu de Ciência e Tecnologia da Europa está em Munique, na Alemanha, não em Londres. E, se é para incrementar estádios, há um excelente Museu do Futebol não muito longe, no Pacaembu, em São Paulo.

Viajar é bom

Enquanto o ministro da Educação pensa em Londres e nos museus, os professores universitários federais, ligados à sua pasta, continuam em greve (das 59 universidades federais, 58 estão paradas). A negociação é complicada: o Governo fixou um teto de despesas de R$ 3,9 bilhões em três anos, os professores rejeitaram a proposta. De acordo com técnicos do Governo, atender aos pedidos dos professores custaria R$ 10 bilhões em três anos.

Nesta quarta há nova reunião.

Moralismo

Uma das melhores atletas do time brasileiro de basquete, Iziane, foi cortada por indisciplina: dormiu com seu namorado. O moralismo neste país cresce e sempre contra mulheres. Qual jogador de futebol ficou a seco na Seleção?