Casal que fatura unido

(*) Carlos Brickmann –

O problema dessas histórias mal explicadas é que precisa ser tudo bem combinado: se alguém erra, dá a impressão de que todos estão mentindo. Imagine!

Pois descobriu-se que a primeira-dama da Bahia, Fátima Mendonça, enfermeira de profissão, esposa do governador petista Jaques Wagner, tem salário mensal de R$ 14.632, como assessora de supervisão geral da Coordenação de Assistência Médica do Tribunal de Justiça de Salvador. Aí as peças começam a se desencaixar: a assessoria de Imprensa de Fátima Mendonça diz que ela está licenciada desde 2007, quando assumiu o comando das Voluntárias Sociais, cargo tradicionalmente reservado às primeiras damas. A assessoria de Comunicação do Tribunal diz que ela não está licenciada, não: desenvolve projetos relacionados a menores “em situação de vulnerabilidade”, e que ser presidente das Voluntárias Sociais “não a descredencia de suas atividades profissionais”. Licenciada ou não, o salário continua sendo pago à esposa do governador. E é um belo reforço à receita do casal: somando-se o que ambos recebem do Estado, dá uns R$ 40 mil.

É um acréscimo muito bem recebido. Jaques Wagner está pagando a residência onde vai morar no fim de seu mandato, em 2014, no Corredor da Vitória, elegantíssima região de Salvador. O preço da Mansão Leonor Calmon, segundo informações oficiais, foi de R$ 3,7 milhões.

Para quem começou como técnico de manutenção de petroquímica, entrou no PT e em sindicatos e depois só exerceu cargos públicos, é um bom exemplo de quem se esforçou e cresceu na vida.

Tudo de bom

A propósito, quem não quer ser voluntário ganhando altos salários?

AP 470, vulgo Mensalão

O que vai acontecer não se sabe; mas, pela primeira vez, pessoas muito poderosas enfrentam julgamento. No dia 3, os 38 réus do Mensalão (que a Justiça chama de Ação Penal 470, já que uma das questões em debate é se houve mesmo um mensalão) começam a ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal.

Se tudo correr normalmente, as sentenças deverão ser conhecidas pouco antes de outubro – e, portanto, pertinho das eleições, podendo até influir nos resultados. Marcos Valério, Delúbio Soares, Duda Mendonça, José Dirceu, João Paulo Cunha, Roberto Jefferson são alguns dos réus; os votos do relator Joaquim Barbosa e do revisor Ricardo Lewandowski devem, somados, alcançar duas mil páginas.

Meio milhão, deve ser bom

O levantamento é do portal jurídico Espaço Vital (www.espacovital.com.br): há 464.545 candidatos às próximas eleições, em todo o país. Destes, 434 mil saem para vereador, 15.300 para prefeito, outro tanto para vice-prefeito. Considerando-se que campanha eleitoral é cansativa, custa caro, interrompe as atividades normais do candidato e é, com frequência, frustrante, deve-se imaginar que ter mandato é bom demais. Compensa todos os sacrifícios e despesas.

Melhorando o quase perfeito

Do jornalista João Russo, aperfeiçoando a declaração de apoio do deputado petista Cândido Vaccarezza ao governador peemedebista Sérgio Cabral, quando a imprensa começou a descobrir coisas que, mantidas encobertas, seriam bem mais confortáveis para todos os envolvidos:

– “Vocês é meu e eu somos teu.”

Os não-eleitos

Para que não haja dúvidas, este colunista discorda duramente do trabalho do secretário da Segurança de São Paulo, Ferreira Pinto; e não acredita que pudesse tê-lo algum dia como amigo. Mas o secretário, goste ou não este colunista, foi escolhido para o cargo pelo governador eleito de São Paulo, e não é admissível que um promotor, que não foi eleito, pressione o governador para afastá-lo. Se o promotor sabe de algo que desqualifique o secretário para o exercício do cargo, que informe o governador do que se trata ou inicie o processo de uma vez.

Lembremos o voto 17.223 do desembargador Pedro Gagliardi, no habeas corpus 993 080 909, sobre a insistência do Ministério Público em fazer investigações que pela Constituição têm de feitas por policiais: “Sempre que um órgão coloca sob seus tacões toda a Polícia, surge no ar um cheiro de ditadura”.

Ralo olímpico

Sabe o Velódromo do Rio, o mais moderno do país, feito para os Jogos Pan-Americanos, que deve ser demolido para que seja construído outro maior para as Olimpíadas? Pois é: custou R$ 14 milhões. Em valores corrigidos, pouco menos de R$ 20 milhões de hoje. O novo Velódromo, pelo que se anuncia, custará R$ 115 milhões. Talvez alguém possa explicar por que não se pode reformar o Velódromo atual, para que atenda às exigências olímpicas; ou por que o atual não foi construído já pensando nas Olimpíadas; e, principalmente, qual é a diferença entre um e outro que vai multiplicar por cinco o custo do novo Velódromo.

Malvadeza

Frase da coluna Confidencial, do jornalista Aziz Ahmed, no Jornal do Commercio do Rio: “O ex-presidente Lula decidiu retomar nesta segunda-feira a rotina de trabalho no instituto que leva seu nome.”