Agosto: como sobreviver

    (*) Marli Gonçalves –

    Se fechar em casa, não ligar tevê ou rádio. Não ouvir a conversa do vizinho no ônibus. Esquecer o computador, exilar-se em algum lugar distante, bem distante. Não atender o celular nem ler SMS. Como não é bem possível nada disso, o melhor é preparar o humor, o saco, o estômago. Agosto chegou na portinha e está aí espreitando por nós. O mês mais esquisito do ano dessa vez ainda por cima vai trazer um rabinho de acontecimentos dignos de nota

    Passo o ponto. Ando tão impressionada com a quantidade de vezes ao dia que, passando em algum local, leio essa frase em faixas e mais faixas afixadas que arrisco a dizer que a bolha não vai estourar. Já estourou. Igual àquelas que dão no pé e nem esperam a gente aparecer com a agulha assassina – quando a gente vê já fizeram água e estão infeccionando. Não é a comparação mais bonita, mas ou todo mundo está mudando de ramo, em um alucinado e raro novo momento de desenvolvimento econômico e social, ou o “bicho está pegando”, alternativa mais viável, façam o que quiserem para ocultar.

    Daqui a algumas horas entraremos no mês de agosto, o 8, o início “formal” e sem rodeios do segundo semestre de todos os anos. O mês sinistro que todo mundo já uniu em rimas com gosto e a contragosto, já explicou ou tentou explicar que na verdade o coitado pegou fama só por causa de umas coisinhas ruins que ocorreram na História.

    Só que este ano teremos mesmo o nosso saco de amendoim torrado, muito além da crise que nos sopra a nuca, gélida, para contrapor. Com mensalão entrando e saindo de todos os poros. Fui eu, não fui eu, foi ele, fiz porque ele mandou, e Ele não sabia de nada. Quem? O que, como, por que, onde? Abafa o caso.

    Para combater o mensalão, até já começou, proteja bem a cabeça e os ouvidos: toda sorte de artilharia pesada será lançada de contra-ataque já que, para piorar, estamos em época das campanhas municipais, aquelas que são mais perto de nós. E como ninguém brinca mais de chamar uns aos outros só de feios, vai voar para todo lado. Com ventilador, aquecedor, ar condicionado.

    Não bastasse, ainda, volta o Rock Horror Show da CPI do Cachoeira, agregando assessora gostosa, mulher gostosa, ex-mulher poderosa, governadores assoviando La Pasionaria. Oposição de voz fina, cabelo pintado e discurso empolado, e implicados fazendo beiço e biquinho de não falo, falo, não falo, falo. Pagot, não Pagot, não sou Preto, sou Paulo. Morcegos nos mordam!

    Ei, não acabei! Dia 21 vai começar o horário gratuito de campanha, que ficará 45 dias no ar e nas ondas. As redes sociais serão infestadas com exércitos reais e de robôs se xingando. Latindo e rosnando sem morder, porque se morder pode morder com raiva.

    Agosto é o mês do cachorro louco. Fui atrás de saber por que – até porque tradicionalmente a vacina contra raiva é dada nesse mês. Olha só o que descobri: como no mês de agosto a concentração de cadelas no cio aumentaria bastante devido a algumas condições climáticas (não descobri quais), os cachorrinhos ficam loucos e babando por elas, querendo engatar alguma conversinha. E quando havia a epidemia de raiva, justamente por isso, pelo chamego todo, eles se contaminariam com a saliva e passariam a babar, aí não só de tesão, como de raiva mesmo. Igual a esses maridos sarnentos que vivem matando esposas nas nossas barbas, mesmo as que deveriam estar protegidas.

    Em agosto, também segundo a religião, o diabo fica solto e vou contar do meu jeito. É que São Pedro, que tem as chaves dos dois locais bacanas – o Céu e o Inferno – no dia 24 abre a porta para o que é mais “da pá virada”. Não sei se de sacanagem. E depois só o São Bartolomeu é que pega o cara de novo e o manda lá pra baixo. Enquanto isso… o indigitado espírito zombeteiro faz coisas como as que já fez com a gente nesse mundo: suicida Vargas, faz o Jânio renunciar, mata JK em acidente, cria Woodstock, Hitler, guerras.

    E ainda tem o Dia do Pendura, o Dia do Soldado, o Dia dos Pais, o Criança Esperança…

    Precisava?

    São Paulo, com gosto, ao gosto, 2012

    (*) Marli Gonçalves é jornalista – Em compensação, lembra, depois desse mês vem setembro, primavera, época de acasalamento.

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