A bagunça é de lei

(*) Carlos Brickmann –

Num país em que técnico de futebol é “professor”, professor é “tio”, mãe é insulto e suadouro é crime, as coisas mais estranhas parecem normais. Paralisar o país é simples: basta cumprir direitinho aquilo que mandam a legislação e as normas. A isso se chama “operação-padrão” – ou seja, se tudo for feito rigorosamente de acordo com o padrão exigido pelo serviço, nada vai funcionar.

Até agora, tudo bem: esta é a regra básica do Brasil para principiantes. Mas aqui não seria o país do sal e do sol, em que o barquinho vai e a tardinha cai, se não houvesse a cada dia uma novidade. Pois vai lá: o Superior Tribunal de Justiça declarou que a operação-padrão da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal é ilegal. A operação-padrão, disse um ministro do STJ, “é uma tática que provoca inegáveis perturbações no desempenho de quaisquer atividades administrativas”. Enfim, fazer o que mandam as normas é uma tremenda safadeza.

É claro que a turma do serviço público federal não está fazendo operação-padrão movida pelo incontido desejo de cumprir, item por item, aquilo que lhes é determinado por leis, portarias, despachos, etc. Eles sabem que essas normas são inviáveis e que cumpri-las equivale a fazer greve. Os magistrados também sabem que as normas são inviáveis, tanto que proíbem cumpri-las porque perturbam a tranquilidade pública e equivalem a uma greve não declarada (e ilegal).

Um dia a crise acaba. Mas pode apostar que vai continuar o absurdo das normas que, se cumpridas, paralisam tudo.

Como diria o Galvão Bueno, É BRASIL!

Viva…

A esbórnia das paralisações no serviço público federal tem duas faces: a primeira, da total paralisia do Governo da presidente Dilma Rousseff, que deixou a situação fora de controle e permitiu coisas inacreditáveis, como universidades federais há três meses sem aulas; e a segunda, o total descompromisso das centrais sindicais com as necessidades da população, que leva a outros fatos inacreditáveis, como a falta de remédios básicos nos hospitais, prontos-socorros e no programa Farmácia Popular.

Ainda não há falta de remédios nas farmácias, para quem pode pagá-los; mas para quem é pobre o remédio simplesmente sumiu.

…se for capaz

A greve da Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, bloqueou a importação de remédios e de componentes para os remédios aqui produzidos. A falta de insulina mata? Que o pobre morra. Remédios para amenizar o sofrimento de quem tem Alzheimer? Que os pobres sofram. O programa de José Luís Datena na Rádio Bandeirantes, SP, passou cerca de uma hora, na sexta, mostrando casos de falta de remédios essenciais na rede pública. E o Governo, que faz para ao menos contornar os problemas mais sérios?

Faz como Mike Phelps: nada.

Questão de mérito

Quem é, e o que fez, o ministro do Desenvolvimento Agrário? Quem é, e o que faz, a ministra da Igualdade Racial? Quem é, e o que fez, o ministro da Pesca? Quem é Carlos Daudt? Em greve, mesmo, quem está é o Governo.

O lado bom

Acompanhando o julgamento do Mensalão? O caro leitor ainda terá muitas horas de TV pela frente. Há dois outros mensalões na fila, o mais antigo de todos (o de Minas, que envolve gente importante do PSDB e que aparentemente foi a matriz do Mensalão que o Supremo está julgando); o mais novo, o de Brasília, com figurões do DEM, que derrubou o governador José Roberto Arruda.

E, com bom potencial explosivo, o caso goiano: o Superior Tribunal de Justiça mandou abrir inquérito para apurar as relações entre o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Lições de Governo

Amanhã, segunda, um evento de qualidade em São Paulo; o Insper, instituto de ensino superior de prestígio, promove o 2º Fórum de Políticas Públicas, com debates sobre política de saúde, sistema eleitoral e desenvolvimento sustentável. Só gente de primeiro time: Amitabh Chandra, professor of Public Policy, Harvard Kennedy School of Government; Ricardo Abramovay, professor de Economia da USP; Oscar Fernando dos Santos, diretor de Prática Médica do Hospital Israelita Albert Einstein; Thomas Fujiwara, professor de Economia, Universidade de Princeton; Fernanda Leon, professora de Economia da Universidade de East Anglia; Monica Viegas, professora de Economia da Saúde, Universidade Federal de Minas Gerais; Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Política Pública do Insper; Fernando Limongi, professor de Ciência Política da USP; André Nassar, diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais; Carlos Melo e Priscila Claro, ambos professores do Insper.

Mais informações, http://www.insper.edu.br/cpp/2o-forum-insper-de-politicas-publicas/

Brincando com números

José Sergio Gabrielli, quando presidente da Petrobras, disse que dispunha de duas sondas para operar em águas profundas. Agora, José Formigli, diretor da Petrobras, disse que a empresa terá 40 sondas no fim do ano, “cinco vezes mais do que em 2005”.

Este colunista não sabe fazer contas. Ainda acha que 2×5=10.