É a economia, senhores

(*) Carlos Brickmann –

É bonito ver tanta gente acompanhando um árido debate jurídico, torcendo pelos resultados, reclamando ou aplaudindo cada voto dos meritíssimos. É triste ver que tanta gente acha que do resultado desse julgamento depende nosso futuro. O julgamento é importante, sem dúvida. Mas nosso futuro, como dizia o marqueteiro James Carville ao candidato Bill Clinton, está na economia.

E a economia vai mal. O Governo Federal prevê que o Produto Interno Bruto do Brasil vá crescer 3% neste ano. O Banco Central pensa em 2,5%, daí para baixo. O mercado financeiro prevê menos de 2%. Para um país que precisa crescer, gerar empregos, investir, é pouco, muito pouco.

E, pior ainda do que o baixo crescimento, há o completo desacerto do Governo – se Dilma é a gerente que tanto se elogia, está na hora de assumir o comando. O Ministério da Fazenda divulgou há pouco o boletim Economia Brasileira, com previsões para o crescimento do PIB em 2012 e 2013 e a expectativa de investimentos até dezembro próximo. Em seguida, no mesmo dia, retirou as previsões, oficialmente para revisar os números. Tão rápido? Que é que mudou em poucas horas? Nada – exceto, talvez, que alguém com mais informação tenha lido o que havia sido divulgado e visto que os números não eram bem assim.

E como serão os números? Dificilmente a alta do PIB chegará a 2% em 2012. Já a inflação, como sempre, deve superar o centro da meta. As sentenças do Mensalão não têm como alterar os números que, esses sim, mudam nossa vida.

Pague e pronto

É assustador olhar para o Impostômetro, o medidor dos impostos que cada brasileiro entrega para União, Estados e Municípios: hoje, dia 29, à 16h30, o valor que pagamos atinge R$ 1 trilhão. É com esse dinheiro que pagamos palácios, carros oficiais, motoristas, exércitos de assessores, aviões da alegria, obras superfaturadas – epa, desculpe o erro: pagamos segurança, educação e saúde.

A cadeira de ministro

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, prometeu que até o Natal deste ano teremos smartphones a R$ 200. Tudo bem: o ministro do Desenvolvimento, Aloízio Mercadante, foi à China e prometeu que até o fim do ano passado haveria uma chuva de Ipads fabricados no Brasil, com investimentos milionários dos chineses e criação de cem mil empregos. Não houve chuva de IPads, os chineses são taiwaneses com fábrica na China, o investimento não é deles, é do BNDES, não haverá criação de cem mil empregos.

E até o ministro já mudou de cargo.

Os fracos e oprimidos

É bonito, também, ver como tanta gente resolveu protestar contra os honorários dos advogados dos réus do Mensalão. E sem conhecer os valores (houve até agora apenas especulações), sem saber o que cobrem (alguns anos de serviço), sem saber os custos em que incorrem os defensores (outros advogados estudando o caso, pesquisadores, pareceres). E é engraçado ver que, no fundo, os indignados com os honorários advocatícios estão defendendo o patrimônio de pessoas como Delúbio Soares, João Paulo Cunha, banqueiros diversos – gente ingênua, que não sabe administrar seu dinheiro e perderia tudo sem nossos conselhos.

Sério: se banqueiro acha que os honorários estão no padrão de mercado, estão.

Mão pesada

Entre advogados e pessoas interessadas no julgamento, há uma certa surpresa com o andamento do Mensalão: esperava-se uma votação mais dividida.

Falam os astros

A mãe de Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, disse no horário eleitoral gratuito de ontem, 28, que ele nasceu em 25 de janeiro de 1963, dois minutos depois da zero hora. O objetivo político foi mostrar que ele faz anos no aniversário de São Paulo. Mas Bárbara Abramo, uma das mais conceituadas astrólogas do país, analisou os dados no portal UOL: todos ótimos, indicando pessoas que se elevam e se destacam no Brasil. Mas, três ou quatro dias antes das eleições, Saturno irá desafiar esses pontos favoráveis.

Na opinião da astróloga, isso identifica “desempenho ruim e pouca possibilidade de eleição”.

Derrubando o sal

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, Edmundo Klotz, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acabam de assinar novo acordo para reduzir a quantidade de sal na comida industrializada. A medida – excelente – faz parte do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis – no caso do sal, a mais grave é a pressão alta, que gera uma série imensa de males, que incluem derrames e infartos.

O acordo é correto, mas exige fiscalização permanente. O sal é um conservante barato, e por isso se usa abundantemente em frios, queijos, peixes preparados. Há certos produtos que, de tão salgados, machucam a língua. E, pior do que isso, acostumam o paladar das pessoas a comidas salgadíssimas.

O sal aparece onde menos se espera: até na Coca-Cola, onde há 50 mg por latinha.

A frase como ela é

Voltando à nota inicial, a frase inteira de Carville é “é a economia, estúpido”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.