Leia e se irrite

(*) Carlos Brickmann –

João Paulo Cunha foi condenado, na forma da lei. Até aí, nada a reclamar. Mas há um ponto que, estando embora na lei, deveria ser discutido: por que a punição deve ser a cadeia? Gente desse tipo não oferece risco de violência; ele não irá colocar ninguém na mira de uma arma. Ele pode ser deixado em liberdade (ao contrário daquele trombadinha, coitadinho, que roubou muito menos e foi preso – mas que, solto, ameaçaria a vida de outras pessoas). Deve ser punido, claro; mas é bobagem colocá-lo na cadeia, onde ocupará uma vaga necessária para conter criminosos violentos e nos forçará a gastar dinheiro público – escasso – para vigiá-lo, alimentá-lo, protegê-lo de outros prisioneiros indignados com o comportamento que o levou a ser seu novo colega. E, na cadeia, ele também poderá ensinar aos presos mais coisas ruins que eventualmente ainda não saibam.

Pessoas como João Paulo Cunha sentem muito mais dois outros tipos de pena: primeiro, o afastamento da vida pública, do poder, da vida nos palácios, dos puxa-sacos que correm para abrir-lhe as portas e os chamam de Vossa Excelência; segundo, a devolução do dinheiro desviado, acrescido de multas pesadas e efetivamente cobradas. Há gente para quem dinheiro é mais importante que tudo, inclusive a liberdade. Que o condenado seja punido exemplarmente, então, da maneira que lhe é mais dolorosa, permitindo que o país seja ressarcido dos prejuízos que teve não apenas com os desvios, mas também com o custo das investigações e processos.

É melhor do que gastar ainda mais verba pública com ele.

Irrite-se mais

E não podemos, em hipótese alguma, deixar de agradecer a João Paulo Cunha o serviço que prestou ao país. Caso João Paulo e outros dois réus do Mensalão, os deputados Pedro Henry e Valdemar Costa Neto, não tivessem insistido em se candidatar, mesmo já estando envolvidos no caso, o Mensalão não teria ido diretamente ao Supremo. Os casos seriam julgados em primeira instância, sem que o agrupamento dos processos permitisse uma visão de conjunto; e, com amplas possibilidades de recurso a tribunais superiores, a demora na conclusão dos julgamentos seria muito maior, permitindo que quase tudo prescrevesse e o Mensalão enfim se transformasse, como previa a imortal frase de Delúbio Soares (aquele a quem Lula chamava de “nosso Delúbio”), em piada de salão.

O mal da cobiça

No caso do Mensalão, quem se saiu melhor foi Sílvio Pereira, que foi secretário-geral do PT: como não tinha a volúpia do poder, devolveu a Land-Rover que tinha ganho de presente, fez um acordo com o Ministério Público que o levou a prestar serviços comunitários, ficou fora do processo e vive hoje sem problemas.

Juventude prostituta

Atenção: no tumulto de Brasília algo grave está passando batido. A reforma do Código Penal abre brecha para a prostituição de adolescentes. Diz o projeto:

“Favorecimento da prostituição ou da exploração sexual de vulnerável”

“Art. 189. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de doze anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para decidir:

Pena – prisão, de quatro a dez anos.”

Os parágrafos seguintes citam menores de 18 anos; mas o caput, a abertura, fala em 12 anos. O senador Pedro Taques (PDT de Mato Grosso), diz que como relator não precisa explicar nada. Mas este colunista, como cidadão, acha que tudo deve ser explicado, sim.

Quem paga impostos e vota tem de ser informado.

Coca com sal

Esta coluna elogiou a decisão do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de reduzir o consumo de sal. E citou, para mostrar onde o sal se esconde, que até a Coca-Cola o tem: 50 mg por lata. A Assessoria de Imprensa da Coca-Cola diz que o número está errado: a Coca regular tem 18 mg de sódio e a Coca Zero tem 49 mg. “Vale registrar que, deste total, a maior parte do sódio vem da água utilizada na produção da bebida”. A Coca diz também que a quantidade de sódio de seus refrigerantes é um pequeno percentual do consumo máximo recomendado.

OK, registrado. Não são 50 mg, são 49 mg. Este “pequeno percentual” de sal se soma ao que há no queijo, no presunto, no pão. Juntando tudo, é muito.

Uma dúvida: se a maior parte do sódio da Coca-Cola vem da água utilizada na produção, como é que a Coca regular tem 18 mg de sódio por lata e a Coca Zero tem 49mg? Será que usam águas diferentes para produzir uma e outra?

O paraíso de Nahas

O milionário Naji Nahas planeja um condomínio exclusivo, de altíssimo luxo, só para brasileiros, numa área do Sul do Uruguai em que realiza grandes investimentos. No condomínio, as atrações serão caça, pesca e esqui na neve.

Acalme-se, é assim mesmo

Enquanto Dilma penava com os funcionários em greve, o senador José Sarney resolvia em silêncio, sempre com dinheiro público, seus problemas internos. Os funcionários do Senado receberão os mesmos 15,8%, em três anos, oferecidos aos grevistas.

Em 2013, o Senado gastará com isso mais R$ 132 milhões.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.