Chega de intermediários, vote Cachoeira

(*) Carlos Brickmann –

Feliz com o julgamento do Mensalão? Pois a CPI do Cachoeira, que investiga a movimentação ilegal de R$ 30 bilhões pelo bicheiro e sua turma, parou: como disse o presidente da CPI, até o primeiro turno da eleição não há como fazer com que parlamentares apareçam lá para trabalhar. Ele é otimista: depois de 7 de outubro, dia do primeiro turno, há cidades com segundo turno, há composições em torno dos eleitos, coisas de interesse deles a fazer com o nosso dinheiro. Aí entra a temporada de férias e festas de fim de ano. O ano que vem (após a Semana Santa, claro) é outro ano, com outros temas. O objetivo maior da CPI já foi atingido: criar problemas para o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. E a Construtora Delta? Esqueça: Delta é apenas a quarta letra do alfabeto grego.

E, saiba o caro leitor, é preciso reconhecer o talento de Cachoeira. Indicou secretários, presidente de autarquia, botou a irmã de seu operador num carguinho legal – fora isso, nomeou muito mais gente para empregos menos cotados. Interferiu em concorrências, aliou-se a uma grande construtora, espalhou-se por Tocantins, Goiás, Brasília, tinha sob controle, trabalhando para ele, até um promotor daqueles bravos, metido a honesto, denunciando os malfeitos dos outros.

Amasiou-se por dois anos com a mulher de um amigo. Quando o amigo soube, foi buscar consolo com quem? Com Cachoeira. E, ao que se comenta, mesmo preso Cachoeira já recompôs seu esquema operacional.

Quando ele for solto, esqueça os intermediários: vote no Cachoeira.

Cascata de dinheiro

O PSDB preparou relatório com base no que foi apurado até agora na CPI do Cachoeira. O empresário zoológico e seus parceiros movimentaram pelo menos R$ 29 bilhões em dez anos, sendo uns R$ 24 bilhões nos últimos quatro anos. A Polícia Federal avalia os bens dos investigados na CPI em R$ 167 milhões: são 21 empresas. 74 terrenos, 58 apartamentos, 36 fazendas, 3.400 bois, 32 motos, 18 prédios, 13 casas, quatro caminhões, 51 carros (entre eles, quatro Porsche).

O feroz acusador

Demóstenes Torres, o senador do DEM cassado por falta de decoro, voltou para seu posto no Ministério Público de Goiás. Há procuradores que se sentem constrangidos por tê-lo nos quadros da instituição. O corregedor-geral do MP goiano é Aylton Vecchi, que foi chefe de Gabinete de Demóstenes quando ele dirigiu a instituição. E quem dirige o Ministério Público é Benedito Torres, irmão de Demóstenes Torres.

Os dois andaram brigados, mas fizeram as pazes.

Quando acerta, erra

Americano vive errando o nome de nossa capital (muitos ainda acham que é Buenos Aires), a língua que falamos aqui (muitos estão convencidos de que é espanhol). Mas, às vezes, o erro nem está tão errado assim: a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, encaminhou mensagem de parabéns ao Brasil pelo Dia da Independência e, no meio, referiu-se às multidões que acompanhavam as evoluções da Quadrilha da Fumaça. Logo depois, Hillary Clinton corrigiu a mensagem, referindo-se corretamente à gloriosa Esquadrilha da Fumaça. Mas, de uma ou outra forma, sua frase fazia sentido: neste momento, no Brasil, há mais gente interessada nas evoluções da Quadrilha do que da Esquadrilha.

Lixo no mar

Sabe toda aquela propaganda do Governo Federal e da Petrobras sobre sustentabilidade, gestão ambiental, edifícios com certificação verde, etc.? Agora, a verdade, sem marqueteiro, sem propaganda: a Polícia Federal descobriu que a Petrobras despeja poluentes no mar, constantemente. O petróleo extraído dos poços submarinos vem misturado com água; a água é separada e, em países civilizados, armazenada para tratamento. Aqui é jogada ao mar, com resíduos de petróleo (que já são assassinos da vida marinha), restos de graxa, metais venenosos como bário,cádmio,cobre, substâncias radiativas. Há como purificar a água e a Petrobras tem, ao menos em Cabiúnas, uma estação antiga; mas está desativada há mais de cinco anos.

É crime; e o delegado Fábio Scliar, da Divisão de Crimes Ambientais do Rio, encaminhou a denúncia ao Ministério Público Federal.

Ajuste fino

Aperta daqui, ajeita dali, e o Governo Federal vai apresentar as contas públicas como se estivessem certinhas. Não estão: para acertar o superávit primário (diferença entre o que se arrecada e o que se gasta, exceto juros, e que é usado para amortizar a dívida), determinou que a Caixa Econômica Federal e o BNDES transfiram ao Tesouro cerca de R$ 4,5 bilhões, a título de resgate antecipado de títulos que vão vencer no futuro. Com isso a arrecadação do Governo parece aumentar, embora às custas da poupança futura. Assim fica mais fácil, né?

Família que recebe unida

Lembra que a esposa do governador petista baiano Jaques Wagner, Fátima Mendonça, embora seja presidente, no Executivo, das Voluntárias Sociais, recebe R$ 15 mil mensais do Tribunal de Justiça?

Pois é: seus irmãos também se colocaram na folha do Estado. Francisco José Carneiro de Mendonça ganha seus R$ 20 mil mensais, e Maria das Mercês Carneiro de Mendonça, R$ 23 mil.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.